Café Coado: A Tradição e a Arte de um Clássico Brasileiro

Café Coado: Uma Imersão na Alma da Bebida Nacional
O café coado é mais do que uma simples bebida para o brasileiro; é um ritual, uma pausa reconfortante, um elo com memórias afetivas e parte intrínseca da cultura nacional. Presente em aproximadamente 98% dos lares brasileiros, conforme destacado em um artigo do Blog Coffee Mais, o método de coar café, seja em filtro de papel ou de pano, continua sendo uma das formas mais populares e apreciadas de consumo. A Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) corrobora essa preferência, indicando que o café coado é o favorito em grande parte do país.
A história do café no Brasil remonta ao século XVIII, quando as primeiras mudas foram introduzidas, transformando o país em um dos maiores produtores e exportadores mundiais. Essa trajetória consolidou o café não apenas como um pilar econômico, mas como um elemento fundamental da identidade brasileira. E, dentro desse universo, o café coado reina com sua simplicidade e capacidade de extrair sabores e aromas de forma equilibrada.
A Essência do Café Coado: Por Que Ele Conquista Paladares?
O que torna o café coado tão especial? Especialistas e baristas, como Felipe Brazza mencionado pelo Blog uCoffee, apontam que o método resulta em uma bebida harmônica, com equilíbrio entre sabor, doçura, acidez e corpo. Diferentemente de um espresso, que possui maior concentração e densidade devido à pressão, o café coado proporciona uma experiência sensorial mais suave e limpa, pois a filtragem remove muitos dos óleos e sedimentos dos grãos. Essa característica, segundo o Bacco Café, pode resultar em uma bebida menos ácida.
Além disso, o café coado é versátil, permitindo variações na intensidade e no perfil sensorial através da escolha dos grãos, da moagem e da proporção entre água e pó.
Desvendando os Segredos de um Café Coado Perfeito
Preparar um café coado memorável em casa é uma arte que envolve atenção a detalhes cruciais. Seguir algumas etapas pode transformar a experiência da xícara.
A Escolha do Grão e a Importância da Moagem para o Café Coado
Tudo começa com a seleção de um café de qualidade. Para o café coado, a moagem ideal é geralmente a média. Uma moagem muito grossa pode resultar em um café fraco, enquanto uma moagem excessivamente fina pode levar a uma extração lenta e amarga. Para coadores de papel tradicionais, como o Melitta, uma textura similar à areia fina é recomendada, enquanto para métodos como o Hario V60, uma moagem média, parecida com açúcar cristal, é mais indicada.
A Água: Temperatura e Qualidade no Preparo do Café Coado
A qualidade da água é fundamental. Recomenda-se o uso de água filtrada ou mineral para evitar que o cloro interfira no sabor. Quanto à temperatura, o ideal é que a água esteja entre 90°C e 96°C. Muitos especialistas, como os citados pelo Blog Gran Coffee e pelo Estadão, sugerem desligar o fogo assim que as primeiras bolhas grandes começarem a se formar, antes da fervura completa, pois a água excessivamente quente pode "queimar" o pó e alterar o sabor da bebida. O Coffee Lab, por sua vez, defende ferver a água e deixá-la descansar por um minuto para atingir a temperatura ideal, ressaltando que vários componentes de aroma e sabor necessitam de alta temperatura para serem dissolvidos.
O Ritual do Preparo: Escaldar o Filtro e a Proporção Correta
Antes de adicionar o pó, é crucial escaldar o filtro (seja de papel ou pano) com água quente. Esse processo ajuda a eliminar resíduos de sabor do material do filtro e pré-aquece o recipiente, evitando que o café esfrie rapidamente. A proporção entre água e pó de café também é determinante. Uma recomendação comum é utilizar de 10 gramas de pó (aproximadamente uma colher de sopa cheia) para cada 100 ml de água. Essa proporção pode ser ajustada conforme a preferência pessoal.
A Extração: Pré-infusão e Infusão do Café Coado
O processo de passar a água pelo café deve ser feito com calma. Uma técnica recomendada é a pré-infusão: despejar uma pequena quantidade de água quente sobre todo o pó de maneira uniforme, aguardar cerca de 30 segundos para que os gases sejam liberados (o chamado "bloom") e, em seguida, continuar despejando o restante da água em movimentos circulares e lentos, do centro para as bordas. Evitar mexer o pó com colher durante a extração no filtro de papel é uma dica recorrente para não o perfurar. Alguns especialistas, como a barista Isabela Raposeiras mencionada em uma matéria sobre o tema, sugerem mexer o pó para melhorar a extração e intensificar os sabores, embora haja divergências.
Tipos de Filtros para Café Coado: Qual Escolher?
A escolha do filtro influencia diretamente o resultado final da bebida. Os mais comuns são:
- Filtro de Papel: É o mais popular no Brasil, conhecido pela praticidade e por reter mais óleos e sedimentos, resultando em uma bebida mais limpa, suave e, segundo alguns estudos, com menor teor de cafestol e kahweol, substâncias que podem elevar o colesterol. Uma desvantagem é o impacto ambiental por ser de uso único.
- Filtro de Pano: Uma opção tradicional e reutilizável. Permite a passagem de mais óleos, conferindo à bebida um corpo mais marcante e sabor residual prolongado. Exige higienização cuidadosa para evitar o acúmulo de resíduos e sabores indesejados.
- Filtro de Metal (Inox): Reutilizável e durável, permite que mais óleos e sedimentos passem para o café, resultando em uma bebida mais encorpada. Não retém o cafestol e o kahweol.
- Filtro Sintético (Polipropileno/TNT): Durável e reutilizável, não deixa resíduos ou cheiro no café. O resultado da bebida é similar ao do filtro de papel.
A alemã Melitta Bentz é reconhecida como a inventora do primeiro filtro de café de papel em 1908, uma inovação que revolucionou o preparo da bebida. Coadores como o Hario V60 e a Chemex também se popularizaram, especialmente com o advento da "terceira onda do café", que valoriza métodos de preparo artesanais.
Café Coado nas Cafeterias: Uma Tendência que Veio para Ficar
Apesar da popularidade do café espresso em cafeterias, o café coado tem ganhado cada vez mais destaque nesses estabelecimentos, especialmente com a valorização dos cafés especiais. Muitas cafeterias em São Paulo, como o Coffee Lab, fundado pela barista Isabela Raposeiras, oferecem diversas opções de cafés coados, explorando diferentes grãos e métodos de extração. Essa tendência reflete uma mudança no comportamento do consumidor, que busca experiências mais autênticas e aprecia a complexidade sensorial que um bom café coado pode oferecer.
Benefícios do Café Coado para a Saúde
Além do prazer sensorial, o café coado, quando preparado com filtro de papel, pode oferecer benefícios à saúde. Estudos indicam que a filtragem remove substâncias como o cafestol e o kahweol, que podem estar associadas ao aumento dos níveis de colesterol. Uma pesquisa de longa duração publicada no "European Journal of Preventive Cardiology" sugere que o consumo de café filtrado está associado a um menor risco de ataques cardíacos e morte prematura. De acordo com a ABICS (Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel), embora o café instantâneo possa ter um teor ligeiramente maior de ácido clorogênico e cafeína, o café filtrado permite maior controle sobre a qualidade e o preparo. No entanto, é importante consumir com moderação e, preferencialmente, sem adição de açúcar.
A Cultura do Café Coado no Brasil
O café coado está profundamente enraizado na cultura brasileira, simbolizando hospitalidade e momentos de convívio. É a bebida que acompanha o pão de queijo, as conversas em família e as pausas no trabalho. Para muitos, o aroma do café coando pela manhã é uma das mais fortes memórias afetivas. Seja preparado no tradicional coador de pano ou nos modernos drips individuais, o café coado continua sendo uma expressão autêntica da alma brasileira, uma tradição que se renova a cada xícara.
A escolha do método de preparo, como destaca Ensei Neto em uma entrevista para a BBC News Brasil, é, acima de tudo, uma questão de gosto pessoal, com cada técnica realçando diferentes características da bebida. O importante é apreciar cada gole dessa paixão nacional.
