A Evolução da Direção nas Quatro Rodas: Uma Jornada de Inovação e Controvérsia

A História da Direção nas Quatro Rodas: Dos Primórdios à Atualidade
A tecnologia de direção nas quatro rodas (4WS), que permite que as rodas traseiras de um veículo estercem em conjunto com as dianteiras, não é uma novidade recente, mas sim o resultado de uma longa jornada de inovação, experimentação e, por vezes, ceticismo. Embora hoje seja frequentemente associada a carros desportivos de alta performance e veículos de luxo, as suas raízes remontam ao início da história do automóvel e até mesmo a veículos agrícolas de tração animal.
Os Pioneiros e os Primeiros Conceitos da Direção nas Quatro Rodas
A ideia de melhorar a manobrabilidade e estabilidade dos veículos através do esterçamento das quatro rodas surgiu há mais de um século. Um dos primeiros exemplos documentados é o Dernburg-Wagen da Daimler-Benz, apresentado em 1907, que já contava com um sistema de direção em todas as rodas, além de tração integral. No entanto, a tecnologia demorou a popularizar-se, enfrentando desafios técnicos e de custos.
Foi apenas na década de 1980 que a direção nas quatro rodas começou a ganhar destaque na indústria automóvel comercial. Fabricantes japoneses foram os grandes impulsionadores desta tecnologia. A Honda é frequentemente citada como pioneira na comercialização em massa do sistema com o seu modelo Prelude de 1988. Este sistema era puramente mecânico e permitia que as rodas traseiras girassem na mesma direção ou em sentido oposto às dianteiras, dependendo do ângulo de esterçamento aplicado ao volante.
A Ascensão e o Declínio Inicial da Direção nas Quatro Rodas nos Anos 80 e 90
Seguindo o exemplo da Honda, outras marcas japonesas como Nissan, Mazda e Mitsubishi também desenvolveram e implementaram os seus próprios sistemas de 4WS. A Nissan introduziu o sistema HICAS (High Capacity Active Steering) no seu modelo Skyline em 1988, inicialmente com atuadores hidráulicos e, posteriormente, evoluindo para o Super HICAS, um sistema mais sofisticado que considerava múltiplos fatores para o esterçamento traseiro. A Mazda aplicou um sistema eletro-hidráulico no 626 Turbo e no MX-6.
Nos Estados Unidos, a General Motors (GM) também explorou esta tecnologia com o sistema Quadrasteer, desenvolvido pela Delphi Corporation e disponível em algumas pick-ups e SUVs full-size no início dos anos 2000. O Quadrasteer permitia que as rodas traseiras girassem até 15 graus, melhorando significativamente a manobrabilidade em baixas velocidades e a estabilidade em altas velocidades.
No entanto, apesar dos benefícios em termos de agilidade e estabilidade, a direção nas quatro rodas não se tornou um padrão na indústria. O custo adicional de produção e a perceção de que era uma tecnologia demasiado complexa ou uma "moda passageira" contribuíram para o seu declínio em popularidade no final da década de 90.
O Renascimento da Direção nas Quatro Rodas na Era Moderna
Após um período de relativo esquecimento, a direção nas quatro rodas ressurgiu com força nos últimos anos, impulsionada pelos avanços na eletrónica e pela procura por maior eficiência e performance. Diversos fabricantes de renome incorporaram sistemas de 4WS nos seus modelos, especialmente em veículos desportivos e de luxo.
A Porsche, por exemplo, implementou o seu sistema Active Rear-Axle Steering em modelos como o 911 GT3 e o Panamera. Este sistema ajusta o ângulo das rodas traseiras em até 3 graus, na direção oposta às dianteiras em baixas velocidades (abaixo de 50 km/h) para reduzir o raio de viragem e aumentar a agilidade, e na mesma direção em altas velocidades (acima de 80 km/h) para melhorar a estabilidade em mudanças de faixa e curvas rápidas.
A BMW oferece o Integral Active Steering, que combina uma relação de direção variável no eixo dianteiro com o esterçamento das rodas traseiras. Em baixas velocidades, as rodas traseiras podem girar até 3,5 graus em sentido oposto às dianteiras, facilitando manobras e estacionamento. Em velocidades mais elevadas, as rodas traseiras viram na mesma direção das dianteiras, proporcionando maior estabilidade e conforto.
A Mercedes-Benz também adotou a tecnologia, conhecida como Hinterachslenkung (direção do eixo traseiro). Alguns modelos, como o Classe S, oferecem até 10 graus de esterçamento das rodas traseiras, o que pode reduzir o diâmetro de viragem em até 2 metros, tornando um sedan de grandes dimensões surpreendentemente ágil em espaços apertados.
A Renault também tem o seu sistema 4Control, introduzido no Laguna Coupé em 2002, que opera de forma semelhante, esterçando as rodas traseiras em sentido oposto em baixas velocidades e no mesmo sentido em altas velocidades.
Como Funciona a Direção nas Quatro Rodas e Seus Benefícios
Independentemente da marca ou da nomenclatura específica do sistema, o princípio de funcionamento da direção nas quatro rodas é similar. Em baixas velocidades, como durante manobras de estacionamento ou em curvas apertadas, as rodas traseiras esterçam em sentido oposto às rodas dianteiras. Isto tem o efeito de "encurtar" virtualmente a distância entre eixos do veículo, reduzindo o raio de viragem e tornando o carro mais ágil e fácil de manobrar.
Em altas velocidades, por outro lado, as rodas traseiras esterçam no mesmo sentido que as rodas dianteiras. Isto "alonga" virtualmente a distância entre eixos, aumentando a estabilidade direcional, especialmente em mudanças de faixa rápidas ou ao contornar curvas em autoestradas. O resultado é um comportamento mais linear e previsível do veículo.
Os sistemas modernos de 4WS são controlados eletronicamente, utilizando sensores para monitorizar a velocidade do veículo, o ângulo do volante e outros parâmetros, ajustando o esterçamento das rodas traseiras de forma precisa e instantânea.
Vantagens e Desvantagens da Direção nas Quatro Rodas
As principais vantagens da direção nas quatro rodas incluem:
- Maior agilidade em baixas velocidades: Facilidade de manobra em espaços reduzidos e curvas apertadas.
- Maior estabilidade em altas velocidades: Condução mais segura e confortável em autoestradas e durante manobras rápidas.
- Melhor precisão de direção: Permite desenhar curvas com maior exatidão.
- Redução do raio de viragem: Torna carros grandes mais fáceis de estacionar e manobrar.
No entanto, também existem algumas desvantagens associadas a esta tecnologia:
- Custo: A implementação de sistemas de 4WS adiciona complexidade e custo ao veículo.
- Peso: Os componentes adicionais podem aumentar ligeiramente o peso do veículo.
- Complexidade e Manutenção: Sistemas mais complexos podem, teoricamente, exigir mais manutenção, embora os fabricantes modernos projetem estes sistemas para serem robustos e fiáveis.
- Sensação de Direção: Alguns condutores podem estranhar inicialmente a sensação de um carro com direção nas quatro rodas, especialmente se estiverem habituados a sistemas de direção convencionais. No entanto, muitos sistemas modernos são calibrados para oferecer uma resposta natural e intuitiva.
O Futuro da Direção nas Quatro Rodas
Com a contínua evolução da eletrónica automóvel e a crescente procura por veículos mais seguros, eficientes e prazerosos de conduzir, a direção nas quatro rodas parece ter um futuro promissor. A capacidade de melhorar dinamicamente o comportamento do veículo em diferentes condições de condução torna-a uma tecnologia valiosa, especialmente em carros elétricos, onde a distribuição de peso e a gestão do binário podem ser otimizadas em conjunto com o sistema de direção.
A história da direção nas quatro rodas é um testemunho da persistência da inovação na indústria automóvel. O que antes foi considerado uma moda passageira, hoje é uma ferramenta sofisticada que contribui significativamente para a performance, segurança e conforto de muitos veículos modernos.
