Plano de Paz para Gaza: Reféns, Netanyahu e o Papel dos EUA

A Esperança de um Anúncio Iminente e as Negociações no Egito
A tensão e a expectativa pairam sobre o Oriente Médio enquanto negociações indiretas cruciais avançam no Egito, com o objetivo de selar um acordo para a libertação de todos os reféns detidos em Gaza. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, expressou uma esperança cautelosa, afirmando que um anúncio significativo poderia ocorrer "nos próximos dias". Este desenvolvimento, se concretizado, representaria uma virada potencialmente decisiva no conflito prolongado que assola a região.

Contudo, a complexidade da situação é imensa. A posição irredutível de Netanyahu sobre a não retirada total de Israel da Faixa de Gaza permanece um obstáculo central, colidindo diretamente com uma das principais exigências do Hamas para qualquer acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiros. As negociações, portanto, caminham em um terreno minado por divergências profundas e desconfiança mútua.
Os Detalhes do Plano de Paz Proposto pelos Estados Unidos
Uma delegação israelense foi enviada ao Egito com a missão específica de "finalizar os detalhes técnicos" de um plano de paz abrangente, proposto pelos Estados Unidos. Este plano, que tem como meta limitar as negociações a um prazo de poucos dias, surge como uma tentativa urgente de pôr fim à guerra que se aproxima de seu segundo aniversário, iniciada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023.
O presidente Donald Trump, que saudou a aceitação de alguns elementos do plano pelo Hamas, tem exercido pressão por uma ação rápida, alertando que "devem agir rapidamente ou tudo estará perdido". Ele também teria ordenado que Israel interrompesse os bombardeios em Gaza, o que, segundo relatos, resultou em uma notável diminuição dos ataques israelenses em algumas áreas, embora a violência persista em outras.
O plano americano conta com amplo apoio internacional, refletindo a urgência global em desescalar o conflito e aliviar a crise humanitária na Faixa de Gaza. Seus pilares visam uma série de trocas e compromissos que, se aceitos por ambas as partes, poderiam pavimentar o caminho para uma trégua mais duradoura.
A Realidade Brutal no Terreno: Violência Persistente em Gaza
Apesar das esperanças diplomáticas, a realidade no terreno em Gaza permanece brutal e marcada pela violência contínua. Enquanto moradores da Cidade de Gaza relataram uma redução nos ataques em algumas áreas, autoridades hospitalares informaram que pelo menos 22 pessoas morreram em um único dia, incluindo mulheres e crianças, evidenciando o custo humano da guerra.
Um ataque israelense no bairro de Tuffah, na Cidade de Gaza, resultou na morte de pelo menos 17 pessoas e feriu outras 25. Fadel Naim, diretor do Hospital Al-Ahli, confirmou que "os ataques continuam", desmentindo a percepção de uma calma generalizada. O Exército de Israel, por sua vez, declarou ter atacado um membro do Hamas e lamentou qualquer dano causado a civis. Mohamed Abu Selmiyah, diretor do Hospital Shifa, também confirmou a morte de cinco palestinos em diferentes partes da Cidade de Gaza, sublinhando a persistência dos confrontos e a fragilidade da situação humanitária.
Trocas e Compromissos: O Que o Plano Americano Exige e Oferece
O plano americano delineia uma série de trocas e compromissos recíprocos, projetados para desescalar o conflito e iniciar um processo de estabilização. As exigências ao Hamas são claras:
<ul>
<li>Libertação dos 48 reféns restantes (dos quais se estima que cerca de 20 ainda estejam vivos) em um prazo de três dias.</li>
<li>Entrega do poder administrativo em Gaza.</li>
<li>Desarmamento do grupo.</li>
</ul>
Em contrapartida, Israel seria obrigado a:
<ul>
<li>Interromper sua ofensiva militar.</li>
<li>Retirar suas forças de grande parte do território de Gaza.</li>
<li>Libertar centenas de prisioneiros palestinos.</li>
<li>Permitir a entrada massiva de ajuda humanitária.</li>
<li>Abrir caminho para a eventual reconstrução da Faixa de Gaza.</li>
</ul>
A Resposta do Hamas e os Impasses Cruciais
A resposta do Hamas à proposta americana, embora tenha sido aceita em alguns pontos, revela a persistência de impasses significativos. O grupo declarou estar disposto a libertar os reféns e entregar o poder a outros palestinos, o que representa um avanço em relação a posições anteriores.
No entanto, outras questões contempladas na proposta americana, como a desmilitarização do Hamas, exigem "mais consultas entre os próprios palestinos". O grupo não abordou explicitamente este ponto crucial em sua declaração oficial, o que levanta dúvidas sobre sua real intenção de depor as armas.
Essa postura de "sim, mas" é interpretada por analistas como Oded Ailam, pesquisador do Centro de Jerusalém para Segurança e Assuntos Exteriores, como uma reformulação de antigas exigências com uma linguagem mais branda. Para Ailam, isso indica que a postura essencial do Hamas permanece inalterada, dificultando um acordo que satisfaça as condições de Israel e dos EUA para uma paz duradoura.
Dinâmicas Internas e Apoio Internacional
A complexidade das negociações é agravada pelas divisões internas em Israel e entre os grupos palestinos. O general israelense reformado Amir Avivi, presidente do Fórum de Defesa e Segurança de Israel, alertou que, embora Israel possa se permitir parar de atirar em Gaza para a libertação dos reféns, a ofensiva será retomada se o Hamas não depuser as armas. Mesmo membros influentes do bloco de direita da coalizão de Netanyahu, como Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir, criticaram o progresso do plano, mas, por enquanto, não ameaçaram abandonar o governo, indicando uma frágil coesão política.
A nível internacional, a proposta de Trump tem galvanizado o apoio, com o enviado americano Steve Witkoff liderando a equipe de negociação dos EUA no Egito. As conversas também devem abordar mapas que mostram a retirada esperada das forças israelenses de certas áreas em Gaza, um ponto sensível para a segurança israelense.
Mediadores árabes, por sua vez, estão se preparando para um amplo diálogo entre os palestinos, buscando unificar sua posição sobre o futuro de Gaza. A Jihad Islâmica Palestina, o segundo maior grupo insurgente de Gaza, que havia rejeitado a proposta dias antes, agora aceita a resposta do Hamas ao plano de Trump, o que adiciona uma camada de complexidade e, talvez, de esperança a um cenário político fragmentado.
Entre a Esperança Cautelosa e a Incerta Realidade em Gaza
Apesar da esperança cautelosa expressa por alguns oradores na manifestação semanal em Tel Aviv e pelo grupo que representa famílias de reféns – que afirmou que a possibilidade de ver seus entes queridos retornarem "nunca esteve tão próxima" –, a incerteza sobre o futuro de Gaza e seus habitantes é palpável. Protestos por toda a Europa pedem o fim da guerra, ecoando o desejo global de paz e estabilidade na região.
Em Khan Younis, no sul de Gaza, os palestinos tentam entender o que o plano significa na prática. Sameer Qudeeh expressou o desejo por uma "aplicação concreta" e uma "trégua no terreno", temendo que as negociações fracassem, como já aconteceu no passado. Mohammad Shaat, também em Khan Younis, refletiu o cansaço generalizado: "Espero que o Hamas termine a guerra, porque estamos realmente cansados", uma frase que resume o esgotamento da população civil.
A advertência do Exército de Israel para que os palestinos não tentem retornar à Cidade de Gaza, classificada como "zona de combate perigosa", ressalta a gravidade da situação. Relatos de moradores indicam que, embora tanques e tropas israelenses não tenham avançado desde a manhã de sábado, tiros de artilharia e ataques aéreos ainda eram ouvidos, e drones eram vistos por toda parte. A Sociedade do Crescente Vermelho Palestino informou que seu hospital de campanha Saraya recebeu 10 corpos e mais de 70 feridos após ataques israelenses no sul de Gaza, um testemunho sombrio da violência contínua.
O Custo Humano do Conflito: Números e Perspectivas
O Ministério da Saúde de Gaza, que faz parte do governo liderado pelo Hamas e cujos números são considerados confiáveis pela ONU e por especialistas independentes, informou que o número de mortos na guerra ultrapassou os 67.000, com mais de 700 nomes adicionados recentemente. Metade dessas vítimas são mulheres e crianças, um lembrete sombrio e devastador do custo humano deste conflito.
A expectativa de um anúncio de libertação de reféns, embora traga um vislumbre de alívio e esperança, está imersa em um contexto de profunda destruição, sofrimento e negociações delicadas. Cada passo dado neste intrincado processo é observado com uma mistura de esperança e apreensão, enquanto o mundo aguarda por uma resolução que possa trazer paz duradoura a uma região há muito tempo marcada pela instabilidade e pela dor.
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