PCC e a Guerra da Cocaína na Bolívia

O Triplo Homicídio em Santa Cruz e o Império da Cocaína
Em agosto de 2023, o brutal assassinato de três homens em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, expôs uma realidade violenta e complexa: uma guerra pelo controle do narcotráfico boliviano, liderada por uma aliança poderosa e implacável.

Dejanco Lazarevski (Macedônia do Norte), Miljan Gjekic e Vanja Milosevic (ambos sérvios) foram encontrados mortos, torturados e executados. A princípio, o crime parecia um acerto de contas comum entre traficantes rivais. No entanto, a investigação revelou uma trama muito maior, conectando a Bolívia a uma rede internacional de tráfico de cocaína que se estende pela América do Sul e Europa.
A Ascensão de Sebastian Marset e sua Aliança com o PCC
A chave para entender essa transformação no cenário criminoso boliviano reside na parceria entre Sebastian Marset, um dos traficantes mais procurados do mundo, e o PCC (Primeiro Comando da Capital), uma das maiores facções criminosas do Brasil.
Essa aliança não foi forjada em encontros clandestinos, mas dentro das paredes da prisão Libertad, no Uruguai, entre 2013 e 2018. Marset, na época um jovem traficante de maconha, encontrou no ambiente carcerário violento um terreno fértil para sua ascensão no mundo do crime. Estudos da Universidade da República do Uruguai demonstram que prisões violentas podem, paradoxalmente, facilitar a ascensão na hierarquia criminal.
Dentro da prisão Libertad, Marset teve contato com membros do PCC, expandindo sua influência para além das fronteiras brasileiras. O PCC, originário das prisões paulistas na década de 1990, já havia se transformado em uma organização transnacional com ramificações em diversos países.
Marset se encaixou perfeitamente no perfil que o PCC buscava: um indivíduo inteligente, carismático e ambicioso. Ele passou por um processo de iniciação, demonstrando sua lealdade e aprendendo os métodos operacionais do PCC, incluindo lavagem de dinheiro e rotas internacionais de tráfico de drogas.
Um Novo Modelo de Tráfico: Do Campo à Europa
Após sua libertação em 2018, Marset já não era o mesmo. Ele havia se transformado em um operador internacional com conexões diretas com o PCC, absorvendo a mentalidade empresarial da facção, que vê o crime como um negócio global, altamente lucrativo e eficiente.
Dois meses depois, ele estava na Bolívia, o terceiro maior produtor mundial de cocaína. Santa Cruz de la Sierra, com sua localização estratégica e economia em crescimento, tornou-se o centro de suas operações.
Marset e o PCC implementaram um novo modelo de tráfico, controlando toda a cadeia produtiva, desde a aquisição da pasta base de cocaína até a distribuição na Europa. Esse controle abrangente inclui lavagem de dinheiro e extensas redes de corrupção.
Eles utilizaram empresas legítimas como fachada para suas operações criminosas, movimentando a cocaína através de pequenas aeronaves para o Paraguai, de onde seguia para portos do Atlântico Sul, com a ajuda de parceiros do PCC e da ‘Ndrangheta italiana.
A Operação A Ultranza PY, do Ministério Público paraguaio, revelou o escopo dessa operação, expondo o envio de mais de 16 toneladas de cocaína para a Europa, gerando lucros de centenas de milhões de dólares.
O triplo homicídio em agosto de 2023 foi apenas um dos resultados dessa sangrenta disputa pelo controle desse lucrativo negócio.
As Implicações da Guerra da Cocaína
A guerra pela cocaína na Bolívia, impulsionada pela aliança entre o PCC e Sebastian Marset, tem implicações de longo alcance, afetando a segurança regional e global. A corrupção, a violência e a instabilidade política são consequências diretas dessa luta pelo poder e pelo controle do mercado de drogas.
A investigação desse caso continua, e é crucial que as autoridades internacionais trabalhem em conjunto para desmantelar essa rede criminosa transnacional e combater a influência do PCC e de outros grupos criminosos na região.
A complexidade da situação exige uma abordagem multifacetada, que inclua ações de inteligência, combate à corrupção, cooperação internacional e investimentos em desenvolvimento socioeconômico para reduzir as oportunidades de envolvimento no tráfico de drogas.
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