Óperas Felinas e Bebês no Espaço: A Invasão da ‘AI Slop’ no YouTube
Imagine ligar o YouTube e se deparar com uma novela dramática estrelada por gatos com feições humanas, ou bebês flutuando em órbita após serem acidentalmente lançados ao espaço. Parece roteiro de um filme surrealista, mas é a nova realidade de parte do conteúdo que está inundando a plataforma de vídeos mais popular do mundo. Este é o fenômeno da 'AI slop', ou 'gororoba de IA', um termo que descreve vídeos gerados por inteligência artificial em massa, muitas vezes de baixa qualidade, surreais, estranhos ou simplesmente grotescos.
A Ascensão da 'AI Slop' no Ecossistema Digital
O que começou como vídeos curtos e engraçados ou tutoriais simples, está se transformando em uma enxurrada de produções bizarras. Uma análise recente de dados da Playboard, uma empresa de análises, revelou que em julho deste ano, quase um em cada dez dos canais do YouTube que mais cresceram globalmente era composto exclusivamente por conteúdo gerado por IA. Isso inclui os famosos 'bebês presos no espaço' e as 'óperas felinas' com milhões de inscritos, como o canal Super Cat League, que já acumulou 3,9 milhões de seguidores com suas narrativas peculiares e perturbadoras envolvendo felinos. [1, 2]
Essa explosão de conteúdo se deve, em grande parte, à disponibilidade crescente de ferramentas poderosas de geração de vídeo por IA, como o Google Veo 3 e o Grok Imagine de Elon Musk. Com apenas alguns comandos de texto, é possível criar roteiros, vozes e visuais, transformando ideias em vídeos em questão de minutos. [1, 2, 4]
A 'Enshitificação' da Experiência Online
Para Dr. Akhil Bhardwaj, professor associado da University of Bath's School of Management, a 'AI slop' é um exemplo da 'enshitificação' da internet. Cunhado pelo autor Cory Doctorow, esse termo descreve o declínio na qualidade da experiência online dos usuários, à medida que as plataformas priorizam o lucro em detrimento do conteúdo de alta qualidade. Segundo Bhardwaj, a 'AI slop' está 'inundando a internet com conteúdo que é essencialmente lixo', prejudicando comunidades online e competindo por receita com artistas e criadores genuínos. [1]
Usuários do YouTube já expressam frustração, relatando que seus feeds estão sendo tomados por esse tipo de conteúdo automatizado, que carece de autenticidade e criatividade humana. A preocupação é que essa maré de vídeos sem alma ofusque a expressão humana genuína, tornando a plataforma um "depósito de vídeos perturbadores e sem alma", como descreveu Ryan Broderick, autor da newsletter Garbage Day. [1]
YouTube Contra-Ataca: Novas Regras e Transparência
Diante do aumento exponencial da 'AI slop', o YouTube tem agido para conter a proliferação desse conteúdo de baixa qualidade. A plataforma, que pertence à Alphabet, tem tentado frear esse 'dilúvio' de conteúdo inautêntico, bloqueando o compartilhamento de receita de anúncios com canais que publicam material repetitivo e sem originalidade. [1, 3]
A partir de 15 de julho de 2025, o YouTube está implementando atualizações nas diretrizes do seu Programa de Parcerias (YPP), reforçando a exigência de que os vídeos submetidos para monetização sejam 'originais' e 'autênticos'. O objetivo é identificar e desmonetizar com mais precisão os conteúdos produzidos em massa ou repetitivos, tirando o incentivo financeiro para sua criação. Um porta-voz do YouTube afirmou que 'todo o conteúdo enviado para o YouTube está sujeito às nossas diretrizes da comunidade – independentemente de como foi gerado'. [1, 3]
Além disso, a plataforma exige que os criadores de conteúdo divulguem quando seus vídeos contêm material sintético ou alterado significativamente por IA, especialmente se o conteúdo parecer real e puder ser confundido com uma pessoa, lugar ou evento verdadeiro. Essa divulgação pode resultar em rótulos na descrição do vídeo e, para tópicos sensíveis como saúde, notícias ou finanças, até mesmo uma etiqueta visível no próprio vídeo. [5]
O Futuro do Conteúdo e a Busca por Autenticidade
A batalha entre a quantidade gerada por IA e a qualidade humana no YouTube está apenas começando. Embora a inteligência artificial ofereça ferramentas incríveis para a criação e edição de vídeos, o desafio é garantir que ela seja usada como um apoio, e não como um substituto para a criatividade e autenticidade. [2, 4]
A comunidade de criadores e os próprios usuários do YouTube clamam por um retorno à originalidade e à curadoria humana. A expectativa é que as novas políticas da plataforma, combinadas com a crescente capacidade dos algoritmos de identificar conteúdo de baixa qualidade, ajudem a restaurar o equilíbrio e a garantir que o YouTube continue sendo um espaço para a expressão genuína, onde óperas felinas e bebês espaciais talvez encontrem seu lugar, mas não dominem a paisagem.
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