IA nas Redações: Metade dos Jornalistas já Utiliza Ferramentas Generativas

A revolução da Inteligência Artificial (IA) não é mais uma promessa distante, mas uma realidade pulsante no coração das redações ao redor do mundo. Uma pesquisa recente da JournalismAI, iniciativa da London School of Economics and Political Science (LSE), revela que uma parcela significativa de profissionais de mídia já incorporou ferramentas de IA generativa em seu cotidiano. Os dados apontam que cerca de 85% das organizações de notícias entrevistadas, incluindo jornalistas, tecnólogos e gerentes, já experimentaram a IA generativa, como o ChatGPT ou o Google Gemini (anteriormente Google Bard), em suas operações diárias.
Este cenário de rápida adoção reflete a busca por eficiência e novas abordagens na produção de notícias, mas também levanta debates cruciais sobre ética e o futuro da profissão.
A Redação do Futuro: Como a IA Está Sendo Empregada?
Longe de substituir o trabalho humano, a IA generativa tem emergido como uma poderosa aliada, automatizando tarefas repetitivas e liberando os jornalistas para focarem em investigações mais profundas e análises complexas. O estudo da JournalismAI, apoiado pela Google News Initiative, indica que a tecnologia está sendo empregada em diversas frentes: desde a coleta de notícias (75% dos respondentes) e produção (90%) até a distribuição (80%).
Entre as aplicações mais comuns, destacam-se a geração de resumos de textos, a criação de manchetes e aprimoramento de títulos, a tradução de artigos de agências e até mesmo a transcrição de entrevistas. Algumas redações já utilizam a IA para analisar vastos volumes de dados não estruturados, identificando padrões e gerando insights que seriam impossíveis de processar manualmente. O jornal O Globo, por exemplo, utilizou ferramentas de IA para analisar 600 mil discursos do Congresso Nacional, uma tarefa que envolveu mais de 255 milhões de palavras e expressões.
Para além do texto, a IA também auxilia na geração de imagens e, em alguns casos, na criação de códigos, evidenciando a versatilidade dessas ferramentas.
O Otimismo e os Desafios Éticos
Apesar do entusiasmo com as novas oportunidades que a IA oferece (73% das organizações de notícias veem a IA generativa como uma oportunidade ), há uma consciência crescente sobre os desafios éticos envolvidos. Mais de 60% dos respondentes na pesquisa da JournalismAI expressaram preocupação com as implicações éticas da IA nos valores jornalísticos, como precisão, imparcialidade e transparência.
A necessidade de supervisão humana direta é um consenso entre os profissionais. Conteúdos gerados por IA exigem sempre a revisão e validação por um jornalista, garantindo a acurácia e mitigando riscos como vieses e imprecisões. Grandes grupos de mídia brasileiros, como Grupo Estado e Grupo Globo, já emitiram diretrizes enfatizando a indispensável supervisão humana no uso editorial da IA generativa.
A desinformação e a questão dos direitos autorais também são pontos de atenção. No Brasil, o debate sobre o impacto da Inteligência Artificial já chegou à esfera política, com o Senado aprovando em dezembro de 2024 um projeto de lei que regulamenta o desenvolvimento e uso da IA, prevendo inclusive o pagamento de direitos autorais por conteúdo utilizado para treinar os modelos.
O Contexto Brasileiro e o Futuro da Profissão
O Brasil, de modo geral, demonstra uma alta receptividade à IA. Uma pesquisa da Ipsos para o Google de janeiro de 2025 mostrou que 54% dos brasileiros declararam ter usado IA generativa em 2024, superando a média global de 48%. Essa abertura à tecnologia se reflete também nas redações, onde a incorporação de ferramentas de IA ocorre de forma gradual, mas consistente.
Embora a IA possa automatizar certas tarefas, a essência do jornalismo – a investigação, a apuração crítica, a interpretação de contextos complexos e a conexão com o público – permanece firmemente nas mãos dos humanos. A tecnologia é uma ferramenta que aprimora, mas não substitui, o discernimento, a criatividade e a ética que definem a profissão. O futuro do jornalismo, portanto, não é de máquinas escrevendo histórias sozinhas, mas de jornalistas potencializados pela IA, elevando a qualidade e o alcance da informação.