Geração Z: A Mais Sortuda da História ou Vítima da IA?

Em um cenário de rápidas transformações tecnológicas, o CEO da OpenAI, Sam Altman, tem uma perspectiva notavelmente otimista sobre o futuro da Geração Z. Para Altman, os jovens que hoje ingressam no mercado de trabalho são, sem dúvida, a geração “mais sortuda da história” devido ao advento da inteligência artificial (IA). Essa visão, no entanto, colide com uma crescente onda de apreensão sobre o deslocamento de empregos e o impacto da automação no mercado de trabalho global.
Afinal, a Geração Z está realmente no limiar de uma era dourada, impulsionada por inovações sem precedentes, ou eles são os primeiros a enfrentar uma crise de empregabilidade em massa, onde máquinas assumem funções antes humanas?
A Promessa de um Futuro Hiperprodutivo
Sam Altman é um dos arquitetos da revolução da IA e sua crença no potencial transformador da tecnologia é inabalável. Ele argumenta que a inteligência artificial, como o ChatGPT, já é mais poderosa que qualquer ser humano em certas tarefas e que seu avanço é um “ponto sem retorno”. Para Altman, a IA não só aumentará exponencialmente a produtividade, mas também liberará a humanidade de tarefas monótonas, permitindo um foco em atividades mais criativas e significativas. [1, 2]
Ele utiliza uma analogia histórica: assim como a eletricidade tornou obsoleta a profissão de acendedor de lampiões, a IA eliminará categorias inteiras de empregos. Contudo, ele enfatiza que isso não é uma catástrofe, mas uma evolução. Novas e "melhores" profissões surgirão, e a prosperidade gerada pela IA será inimaginável para as gerações passadas. Altman chega a vislumbrar a IA como uma extensão da nossa própria cognição, um "órgão cognitivo" capaz de ampliar nossas capacidades e interagir de forma intuitiva, mesmo para quem não tem conhecimento técnico. [1, 2, 3]
O líder da OpenAI destaca a responsabilidade de garantir que essa “superinteligência” seja barata e amplamente disponível, evitando a concentração de poder em poucas mãos, países ou empresas. Essa distribuição democrática, segundo ele, é crucial para que os benefícios da IA atinjam a todos. [1, 2]
A Nuvem do Desemprego Paira Sobre a Geração Z
Apesar do otimismo de Altman, a realidade para muitos jovens da Geração Z é bem diferente. Pesquisas recentes, como as da Deloitte, revelam que, embora mais de 70% da Geração Z e dos Millennials no Brasil já utilizem IA generativa no trabalho, e muitos a vejam como uma ferramenta que melhora a produtividade e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, o medo da perda de empregos é palpável. Seis em cada dez entrevistados, e sete em cada dez entre os usuários frequentes de IA, acreditam que a tecnologia levará ao deslocamento de vagas. [1, 2]
Dados do IBGE, por exemplo, mostram que a taxa de desemprego é maior entre a Geração Z e os Millennials no Brasil, refletindo uma preocupação generalizada com a estabilidade financeira. Vagas de nível inicial, tradicionalmente ocupadas por recém-formados e jovens, diminuíram significativamente, com funções repetitivas e operacionais sendo as primeiras a serem automatizadas. Essa automação afeta diretamente a “porta de entrada” no mercado de trabalho, dificultando o acesso e o desenvolvimento de habilidades práticas para os que estão começando. [3, 2]
A CNN Brasil noticiou que alguns estudos indicam que gerentes, em certos casos, preferem investir em soluções de IA a contratar recém-formados da Geração Z, citando preocupações com a ética de trabalho e a resiliência profissional. Além disso, uma pesquisa recente revelou que quase metade dos jovens da Geração Z nos EUA acredita que a IA já reduziu o valor de seus diplomas universitários. Essa geração, fluente em tecnologia, mas muitas vezes carente de experiência prática ou de uma mentalidade global, enfrenta um paradoxo: são nativos digitais, mas vulneráveis às disrupções que a própria tecnologia gera. [5, 2]
Entre a Adaptação e a Vulnerabilidade
A tensão entre a visão de um futuro abundante em oportunidades e a ansiedade do deslocamento de empregos é real e complexa. Sam Altman sugere que, embora empregos desapareçam, a humanidade “nunca parece ficar sem o que fazer”, confiando na capacidade humana de encontrar novas avenidas de trabalho. Forbes Brasil também destacou o otimismo de Altman, que acredita na criação de novas oportunidades que, embora diferentes, manterão as pessoas empregadas. [4, 5]
No entanto, a transição não é indolor. A Geração Z é forçada a uma adaptação contínua, com a necessidade de buscar capacitação em novas tecnologias e desenvolver habilidades que complementem a IA, não a reproduzam. Como disse Bill Gates, cofundador da Microsoft, a capacidade de usar ferramentas de IA é "divertida e empoderadora", mas não garante estabilidade em um mercado de trabalho em constante disrupção. [2]
O Caminho a Seguir: Colaboração e Inovação Responsável
Para que a Geração Z realmente se torne a "mais sortuda da história", será necessário mais do que o otimismo de um visionário. É preciso um esforço coordenado entre governos, instituições de ensino e empresas para preparar essa geração para um cenário de trabalho em constante evolução.
Iniciativas focadas em lifelong learning (aprendizado contínuo), requalificação profissional e no desenvolvimento de habilidades sociais e criativas – aquelas que a IA ainda não consegue replicar plenamente – serão fundamentais. Além disso, debates sobre políticas sociais, como a renda básica universal ou sistemas de créditos de IA, que Sam Altman já comentou em outras ocasiões, podem ser cruciais para mitigar os impactos da automação em larga escala. [4]
A era da IA traz promessas de prosperidade e desafios sem precedentes. A Geração Z, no centro dessa revolução, tem o potencial de ser a mais beneficiada, mas apenas se a sociedade conseguir equilibrar o avanço tecnológico com a preparação e o suporte necessários para garantir um futuro equitativo no mundo do trabalho.
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