EUA: Uma Fatia das Vendas de Chips de IA à China?

Em um movimento sem precedentes que redefine as complexas relações comerciais e tecnológicas entre as duas maiores economias do mundo, o governo dos Estados Unidos teria chegado a um acordo com as gigantes de semicondutores Nvidia e AMD para receber uma fatia das vendas de seus chips de inteligência artificial (IA) à China. A notícia, que repercutiu amplamente nos círculos de tecnologia e geopolítica, marca uma nova fase na 'guerra dos chips', transformando a regulamentação em um mecanismo de compartilhamento de receita que levanta questionamentos e reconfigura o panorama global da IA.
A Escalada da Guerra Tecnológica
Há anos, Estados Unidos e China travam uma batalha estratégica pelo domínio tecnológico, com a inteligência artificial no centro do embate. Washington impôs rigorosas restrições à exportação de semicondutores avançados para Pequim, citando preocupações de segurança nacional e o potencial uso militar da tecnologia. Empresas como a Nvidia e a AMD, líderes mundiais na produção de chips de IA, foram diretamente afetadas por essas proibições, perdendo acesso a um dos maiores mercados do mundo. O argumento americano sempre foi o de impedir que a China utilizasse chips de ponta para aprimorar suas capacidades militares e de vigilância, criando uma brecha de segurança.
Um Acordo Inédito: A Fatia de Washington
Fontes próximas às negociações indicam que o governo dos EUA exigirá uma participação de 15% na receita gerada pelas vendas de chips de IA específicos da Nvidia (modelo H20) e da AMD (modelo MI308) para a China. Este arranjo, que não é classificado como imposto ou multa, mas sim como uma condição negociada para a concessão de licenças especiais de exportação, permite que as empresas retomem, de forma limitada, as vendas para o mercado chinês.
A peculiaridade desse acordo reside no fato de que o governo americano se torna um beneficiário financeiro direto do comércio de tecnologia sensível com um rival geopolítico. Os chips H20 da Nvidia, por exemplo, foram desenvolvidos especificamente para atender às restrições de exportação dos EUA, sendo versões 'despotencializadas' dos modelos mais avançados vendidos para outros mercados. A receita obtida por Washington por meio desse mecanismo seria supostamente direcionada para o financiamento de pesquisas em chips, segurança tecnológica e a própria fiscalização das regras de controle de exportação.
Impacto nas Gigantes da Tecnologia
Para a Nvidia e a AMD, o acordo representa um retorno, mesmo que parcial e custoso, a um mercado extremamente lucrativo. A China é um mercado vital para ambas as empresas. A Nvidia, por exemplo, gerou US$ 17 bilhões em receita da China no ano fiscal encerrado em janeiro de 2026, representando 13% de suas vendas totais. A AMD reportou US$ 6,2 bilhões em receita na China em 2024, respondendo por 24% de sua receita total. As proibições anteriores causaram perdas bilionárias, e a capacidade de vender esses chips, mesmo com uma fatia para o governo, é vista como um alívio para os negócios. Representantes da Nvidia têm afirmado publicamente que a empresa segue as regras impostas pelo governo americano para sua participação nos mercados globais.
Implicações Geopolíticas e o Futuro da IA
Este acordo marca uma mudança na abordagem dos EUA. Em vez de um banimento total que poderia incentivar a China a acelerar sua autossuficiência em chips, Washington parece buscar um equilíbrio entre conter o avanço militar chinês e manter a competitividade das empresas americanas. No entanto, a medida já gera debates sobre sua constitucionalidade nos EUA, dado que a Constituição proíbe impostos sobre exportações. Especialistas alertam que, embora o acordo seja descrito como uma condição de licenciamento, sua natureza de 'taxa sobre receita' pode ser contestada legalmente.
A China, por sua vez, observa o cenário com atenção. Embora o acesso aos chips da Nvidia e AMD, ainda que 'despotencializados', possa aliviar a pressão imediata sobre sua indústria de IA, o objetivo de Pequim de desenvolver uma cadeia de suprimentos de semicondutores totalmente autônoma deve se intensificar. O acordo pode ser interpretado como mais uma evidência da determinação americana em moldar o cenário tecnológico global a seu favor, mesmo que isso signifique uma participação financeira direta em um mercado sensível. O futuro da IA e da tecnologia global parece cada vez mais intrinsecamente ligado às manobras estratégicas e financeiras entre essas duas superpotências.
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