Sérgio Pena: Um Legado Iluminador na Genética Brasileira e Mundial

Por Mizael Xavier

Celebrando a Vida e Contribuição de Sérgio Danilo Junho Pena

A comunidade científica brasileira e internacional lamenta a perda de Sérgio Danilo Junho Pena, renomado geneticista, pesquisador e professor. Seu falecimento, em 2023, deixou uma lacuna imensurável, mas seu legado de descobertas pioneiras e dedicação à ciência continua a inspirar e impactar profundamente o campo da genética. A revista científica Nature, um dos periódicos de maior prestígio mundial, recentemente homenageou sua trajetória em um obituário que ressalta suas contribuições significativas.

Pioneirismo e Paixão pela Genética

Nascido em Belo Horizonte em 1947, Sérgio Pena trilhou uma carreira brilhante, marcada pelo pioneirismo e por uma paixão contagiante pela genética. Graduou-se em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1970, prosseguindo para um doutorado em Genética Humana na Universidade de Manitoba, no Canadá, concluído em 1977, e um pós-doutorado no Institute for Medical Research em Mill Hill, Londres. Sua sólida formação internacional foi o alicerce para uma carreira frutífera, dedicada principalmente à genética humana e médica.

De volta ao Brasil, Pena tornou-se uma figura central no desenvolvimento da genética no país. Foi professor titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG e diretor do Laboratório de Genômica Clínica da Faculdade de Medicina da mesma instituição. Em 1982, fundou o GENE – Núcleo de Genética Médica em Belo Horizonte, sendo pioneiro na América Latina a oferecer serviços de diagnóstico através do estudo do DNA, incluindo testes de paternidade. Sua visão empreendedora e científica permitiu que a medicina genética de ponta fosse praticada no Brasil, equiparando-se aos centros mais avançados do mundo.

Contribuições Científicas de Destaque de Sérgio Pena

A pesquisa de Sérgio Pena abrangeu diversas áreas cruciais da genética. Seus estudos sobre a diversidade genômica humana e a formação e estrutura da população brasileira são particularmente notáveis. Ele foi um dos primeiros a demonstrar a herança tri-híbrida (europeia, africana e ameríndia) da população brasileira e a tênue associação entre cor da pele e ancestralidade genética. Esses achados tiveram um impacto profundo na compreensão da identidade brasileira e desafiaram concepções raciais ultrapassadas.

Seus trabalhos, como o artigo "Retrato Molecular do Brasil", revelaram a complexa miscigenação do povo brasileiro, mostrando, por exemplo, que uma parcela significativa de brasileiros brancos possui ancestralidade materna africana ou ameríndia. Pena defendia que a cor da pele é uma adaptação geográfica e não um indicador de capacidade intelectual ou outras características. Suas pesquisas foram fundamentais para desmistificar o conceito biológico de raça, um tema que ele abordou com frequência em suas publicações e palestras.

Além de suas pesquisas sobre a população brasileira, Sérgio Pena também se dedicou ao desenvolvimento de testes baseados em PCR para o diagnóstico de doenças humanas e à aplicação da genômica de nova geração na medicina clínica. Ele estava na vanguarda da medicina genômica de precisão, que utiliza informações do DNA para diagnósticos rápidos e precisos. Pena, inclusive, foi um dos primeiros a ter seu próprio genoma sequenciado, a convite da empresa americana Illumina.

O Legado de Sérgio Pena na Formação de Novas Gerações e na Divulgação Científica

Sérgio Pena não foi apenas um pesquisador brilhante, mas também um educador dedicado e um comunicador apaixonado pela ciência. Como professor na UFMG, inspirou e formou inúmeros estudantes e pesquisadores, muitos dos quais hoje são referências em suas áreas. Ele tinha o dom de congregar pessoas e fomentar o pensamento crítico.

Sua atuação na divulgação científica também foi marcante. Pena foi colunista da revista Ciência Hoje, onde, através de sua coluna "Deriva Genética", compartilhava seus conhecimentos e reflexões sobre temas complexos de forma acessível e elegante. Seu livro "Igualmente Diferentes" reúne ensaios que celebram a diversidade do povo brasileiro e da espécie humana, oferecendo argumentos biológicos e filosóficos contra o racismo. Ele acreditava que a ciência tem um papel libertador ao afastar falácias e preconceitos.

Ao longo de sua carreira, Sérgio Pena recebeu inúmeros prêmios e reconhecimentos, incluindo a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico e o Prêmio TWAS em Ciências Médicas da Academia Mundial de Ciências. Foi membro titular da Academia Brasileira de Ciências, da Academy of Sciences of the Developing World (TWAS), da Academia Mineira de Medicina e da Academia Mineira de Pediatria. Em 2023, pouco antes de seu falecimento, recebeu o título de Professor Emérito da UFMG, uma homenagem à sua indelével contribuição à instituição e à ciência brasileira.

O trabalho de Sérgio Pena transcendeu as fronteiras do laboratório e da academia. Suas pesquisas sobre a genética da população brasileira tiveram um impacto social significativo, fornecendo bases científicas para discussões sobre identidade, raça e políticas públicas. Seu pioneirismo na introdução de testes de DNA no Brasil revolucionou a medicina diagnóstica e a investigação de paternidade.

A partida de Sérgio Danilo Junho Pena representa uma grande perda, mas seu legado intelectual e suas contribuições para a ciência e para a sociedade brasileira ecoarão por gerações. Sua vida e obra são um testemunho do poder da curiosidade científica, do rigor metodológico e do compromisso com a disseminação do conhecimento para a construção de um mundo mais justo e informado.

Mizael Xavier

Mizael Xavier

Desenvolvedor e escritor técnico

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