Ruth Belville: A 'Guardiã do Tempo' de Greenwich e sua Fascinante História

Ruth Belville e a Venda do Tempo
Numa era anterior aos smartphones e relógios atômicos, a precisão do tempo era um luxo, e uma mulher notável chamada Ruth Belville, conhecida como a "Dama do Tempo de Greenwich", construiu uma vida singular vendendo o tempo. Sua ferramenta era um cronômetro de bolso chamado "Arnold", famoso por sua precisão impressionante para a época, com margem de erro de apenas um décimo de segundo. Ruth Belville não era apenas uma vendedora; ela se tornou uma celebridade local, reconhecida por sua confiabilidade e longevidade notável em um negócio incomum, mesmo diante da concorrência acirrada.
O Legado da Família Belville na Medição do Tempo
A história da "Dama do Tempo de Greenwich" começa com seu pai, John Henry Belville. Em 1836, John Henry, que trabalhava no Observatório Real de Greenwich, iniciou um serviço para cerca de 200 clientes. Todas as manhãs, ele acertava seu cronômetro, originalmente feito para o Duque de Sussex pela renomada relojoaria John Arnold & Son, com o tempo do observatório. Ele então percorria Londres, visitando clientes que pagavam para sincronizar seus relógios com o dele. Após a morte de John Henry em 1856, sua viúva, Maria Elizabeth Belville, assumiu o negócio até sua aposentadoria em 1892. Foi então que Ruth Belville herdou a tarefa, continuando o serviço até 1940.
A Rotina de Ruth Belville: Distribuindo o Tempo Médio de Greenwich
Ruth Belville, carinhosamente apelidada de "Arnold" o cronômetro herdado de seu pai, seguia uma rotina precisa. Todas as segundas-feiras, ela visitava o Observatório Real de Greenwich para ajustar seu relógio com o relógio padrão, certificado com precisão de um décimo de segundo. Em seguida, viajava por Londres de transporte público, visitando seus 30 a 40 clientes semanais, que incluíam relojoarias, fábricas, escritórios e bancos, permitindo que eles calibrassem seus próprios relógios. Este serviço disseminava o que era conhecido como Tempo Médio de Greenwich (GMT), o tempo oficial da Grã-Bretanha.
Concorrência e Controvérsias: A Resiliência de Ruth Belville
O negócio de Ruth Belville não ficou isento de desafios. Em 1908, St. John Wynne, diretor da Standard Time Company, principal concorrente de Belville que vendia um serviço de sinal de tempo telegráfico, atacou publicamente o método de Ruth, considerando-o antiquado. Wynne chegou a insinuar que Ruth usava sua feminilidade para manter seus clientes. Essas críticas foram publicadas no jornal The Times, embora sem mencionar a empresa de Wynne ou o fato de ele ser um concorrente direto. Apesar disso, e do surgimento de tecnologias como a transmissão do toque do Big Ben pela BBC em 1924 e o "relógio falante" por telefone em 1936, Ruth Belville perseverou.
O Fim de uma Era e o Legado de Arnold
Ruth Belville continuou seu serviço dedicado até 1940, aposentando-se aos 86 anos. Mesmo em idade avançada, ela ainda era capaz de viajar cerca de dezenove quilômetros de sua casa para chegar ao Observatório às 9 da manhã. A Worshipful Company of Clockmakers concedeu-lhe uma pensão em reconhecimento aos seus longos anos de serviço. Ruth Belville faleceu em 1943, aos 89 anos, e legou seu precioso cronômetro "Arnold" à companhia. Seu falecimento marcou o fim de uma era singular na história da medição e venda do tempo.
O cronômetro "Arnold", formalmente um John Arnold de bolso No. 485/786, datado de cerca de 1794, teve sua caixa de ouro original substituída por uma de prata por John Henry, por receio de roubos. O relógio foi substancialmente reconstruído por volta de 1840 e hoje reside no museu da Worshipful Company of Clockmakers, um símbolo de uma época passada e da dedicação da família Belville em manter Londres no horário.
