Cuidado, Investidor: Analisando a Queda do Mercado de Ações e Estratégias para Navegar na Turbulência Atual

O Que Causa a Queda do Mercado de Ações?

Recentemente, o mercado de ações tem sido alvo de pânico e venda em massa. Com a queda de 3% no S&P 500 — a maior em quase dois anos —, e o Dow Jones e Nasdaq também em declínio, muitos investidores, especialmente os iniciantes, estão compreensivelmente preocupados. Mas o que exatamente está por trás dessa turbulência? De acordo com o especialista em investimentos Mark Tilbury, existem quatro motivos principais para essa movimentação, e o importante é entender o cenário para reagir com inteligência, e não com medo.

1. O Temor de uma Recessão

A primeira e mais discutida razão é o temor de uma recessão. Historicamente, uma recessão – caracterizada pela diminuição dos gastos dos consumidores e pelo aumento do desemprego – leva a uma queda no mercado de ações. Empresas demitem funcionários, menos dinheiro circula, e os lucros caem, impactando diretamente os preços das ações. Embora a recessão de 2020 tenha sido uma exceção, com o S&P 500 subindo mais de 16%, isso não é o padrão.

Relatórios recentes de dados dos EUA indicaram a adição de apenas 114.000 empregos em julho, um número abaixo das expectativas. Além disso, a taxa de desemprego subiu para 4,3%, o nível mais alto desde outubro de 2021. Embora esses números por si só não sejam catastróficos, eles foram suficientes para disparar o que é conhecido como a Regra de Sahm.

O que é a Regra de Sahm?

A Regra de Sahm, desenvolvida pela economista Claudia Sahm, é um indicador de recessão que é acionado quando a média móvel da taxa de desemprego dos EUA em três meses é pelo menos meio ponto percentual maior do que sua mínima em 12 meses. Este indicador tem um histórico de prever com precisão todas as recessões nos EUA desde a Segunda Guerra Mundial.

Apesar de a Regra de Sahm ter sido ativada, e do Goldman Sachs ter aumentado suas chances de recessão de 15% para 25%, a própria Claudia Sahm não acredita que a regra estará certa desta vez. Isso se deve ao fato de o aumento do desemprego não ser por demissões, mas pela entrada de mais pessoas na força de trabalho. Além disso, empresas como Walmart e McDonald's relataram que seus clientes estão gastando menos, e a Wayfair observou uma queda de 25% nos gastos com móveis em comparação com três anos atrás, conforme Pynts. No entanto, é crucial monitorar esses dados, pois o medo da recessão, mesmo sem ela, já pode abalar o mercado.

2. Taxas de Juros

As taxas de juros são outro fator crucial. Em quase todas as vezes que o Federal Reserve (Fed) cortou as taxas de juros a partir de um pico, uma recessão se seguiu de perto, como exemplificado em gráficos históricos da Haver Analytics e Rosenberg Research. Recentemente, o Fed indicou que cortaria as taxas de juros, o que pode parecer um sinal preocupante à primeira vista.

Contudo, a situação atual é diferente. No passado, os cortes de juros eram uma tentativa desesperada de evitar uma recessão. Desta vez, eles são um resultado de uma estratégia bem-sucedida para controlar a inflação, que disparou após a pandemia. A inflação nos EUA atingiu 9,1% em 2022, mas graças aos esforços do Fed para aumentas as taxas em 2022, ela já caiu para cerca de 5%, aproximando-se da meta de 2%. O corte de juros agora deve, na verdade, impulsionar a economia, facilitando o empréstimo de dinheiro e aumentando o fluxo de capital, o que é o oposto do que acontece em uma recessão.

3. Ações de Tecnologia

As ações de tecnologia, especialmente as das "Magnificent 7" (Apple, Amazon, Alphabet, Meta, Microsoft, Tesla e Nvidia), que representam cerca de 31% do S&P 500, foram as mais afetadas. O frenesi em torno da Inteligência Artificial (IA) criou uma bolha, elevando os preços das ações a níveis insustentáveis. Notícias recentes, como a prévia "aquém do esperado" da Apple Intelligence e os atrasos nos chips Blackwell da Nvidia devido a "falhas de design", segundo a Bloomberg UK, fizeram os investidores "despertarem" para a supervalorização. O próprio Warren Buffett, por meio da Berkshire Hathaway, reduziu sua participação na Apple em quase 50% no segundo trimestre de 2024, conforme a CBS News, indicando uma desconfiança nesse setor.

4. O Iene Japonês

Por fim, a valorização do iene japonês também contribuiu para a queda do mercado. Muitos traders utilizavam uma estratégia de "carry trade", tomando empréstimos em ienes a juros quase zero para investir em mercados com retornos mais altos. Com a valorização do iene após a decisão do Banco do Japão de elevar as taxas de juros, esses traders foram forçados a vender seus ativos para cobrir perdas, o que gerou um efeito cascata no mercado global. Embora o Banco do Japão tenha suavizado a retórica sobre novas elevações de juros, o impacto inicial já foi sentido.

Minhas Recomendações para Investir em Tempos de Crise

No cenário atual de incerteza, é fundamental adotar uma estratégia de investimento inteligente e resiliente. Mark Tilbury, com anos de experiência, oferece algumas dicas cruciais:

1. Compre Quando Há "Sangue na Água"

Uma máxima de investimento antiga é: "compre quando há sangue na água". Isso significa que o momento ideal para investir é quando o mercado está em declínio, o pânico leva à venda generalizada e os preços estão em níveis irracionais. Essa estratégia, conhecida como "comprar na baixa" (Dollar-Cost Averaging - DCA), envolve investir regularmente, independentemente das flutuações, comprando mais ações quando os preços caem e menos quando sobem. Isso ajuda a suavizar o custo médio de suas compras ao longo do tempo. Para aplicar essa estratégia, é essencial ter um fundo de emergência de 3 a 5 meses de despesas básicas, para evitar ser forçado a vender seus ativos com prejuízo em momentos de baixa.

2. Diversifique seus Investimentos

A diversificação é a chave para reduzir riscos e suavizar o impacto das flutuações do mercado. Espalhe seu capital em diferentes tipos de ativos, como ações, títulos e até mesmo criptomoedas. Se um setor ou ação específica for afetado, outros investimentos podem compensar as perdas. Embora os fundos de índice S&P 500 já ofereçam diversificação, eles são pesados em empresas de tecnologia. Considerar um fundo total do mercado de ações dos EUA pode fornecer ainda mais diversificação.

3. Mantenha o Foco no Longo Prazo

É fácil ser otimista quando sua carteira está crescendo, mas é tentador vender tudo quando as coisas pioram. No entanto, vender durante uma queda transforma perdas temporárias em permanentes. Durante a queda do mercado da COVID-19 em fevereiro de 2020, por exemplo, um investimento de US$ 1.000 em um ETF que seguia o S&P 500 teria perdido mais de 30% de seu valor. Mas, se você tivesse mantido o investimento, ele teria se recuperado até agosto, apenas sete meses depois.

Tentar adivinhar o "timing" perfeito do mercado é extremamente difícil e muitas vezes leva a oportunidades perdidas, conforme pesquisa da Charles Schwab. Lembre-se do ditado: "Quando o mercado de ações sobe, ele sobe pelas escadas. E quando ele desce, ele pula pela janela." Estamos em um período de "salto pela janela", mas a economia dos EUA ainda é forte e o S&P 500 está com mais de 9% de alta desde janeiro. Correções de mercado são normais e ocorrem em média a cada 1,5 a 2 anos. Portanto, não é um evento sem precedentes. Mantenha a calma, invista com sabedoria e foque no longo prazo.