Manchas Misteriosas em Marte: NASA Investiga Padrões Semelhantes a Tinta Escorrendo

Descobertas Intrigantes na Superfície Marciana
Imagens de alta resolução capturadas por satélite revelaram padrões na superfície de Marte que se assemelham a tinta escorrendo por uma parede. Essas formações, segundo um novo estudo, guardam semelhanças com padrões de solo encontrados em regiões montanhosas e frias da Terra. A descoberta sugere que Marte e Terra podem ter sido moldados por forças naturais semelhantes.
Na Terra, esses padrões surgem nas encostas de regiões montanhosas frias, onde o solo congela e descongela ao longo do ano. Se Marte já apresentou condições igualmente geladas e úmidas, essas formações podem ser locais promissores para investigar o papel que a água líquida pode ter desempenhado na formação do Planeta Vermelho e seu potencial para abrigar sinais de vida.
"Compreender como esses padrões se formam oferece informações valiosas sobre a história climática de Marte, especialmente o potencial para ciclos passados de congelamento e descongelamento, embora mais trabalho seja necessário para determinar se essas feições se formaram recentemente ou há muito tempo", afirmou em comunicado John-Paul Sleiman, autor principal do estudo e doutorando no departamento de ciências terrestres e ambientais da Universidade de Rochester, em Nova York. "Em última análise, esta pesquisa poderia nos ajudar a identificar sinais de ambientes passados ou presentes em outros planetas que podem suportar ou limitar a vida potencial", acrescentou Sleiman.
Os pesquisadores publicaram suas descobertas online em 26 de março na revista científica Icarus.
As Linhas Recorrentes de Encosta (RSL) e o Debate Sobre a Água em Marte
Essas formações, conhecidas como "lobos de fluxo solifluxional", foram analisadas através de imagens de alta resolução da superfície marciana obtidas pela câmera HiRISE, a bordo do Mars Reconnaissance Orbiter (MRO) da NASA. A equipe de pesquisa observou que as formas de relevo onduladas seguiam o mesmo padrão geométrico básico daquelas encontradas nas Montanhas Rochosas da Terra, no Ártico e em outras regiões montanhosas frias.
Há anos, cientistas debatem a origem de outras feições lineares escuras em Marte, conhecidas como Linhas Recorrentes de Encosta (RSL, na sigla em inglês). Essas RSL aparecem e desaparecem com as estações, escurecendo e parecendo fluir por encostas íngremes durante as estações quentes, e depois desvanecendo nas estações mais frias. Inicialmente, a hipótese principal para sua formação envolvia a presença de água salgada líquida (salmouras). A detecção de sais hidratados nessas encostas pela sonda MRO em 2015 forneceu forte evidência para essa teoria, sugerindo que a água desempenha um papel vital na formação dessas estrias. Os sais hidratados abaixariam o ponto de congelamento da salmoura, permitindo que a água fluísse mesmo em temperaturas abaixo de zero.
No entanto, estudos posteriores propuseram mecanismos alternativos, como fluxos de areia e poeira. A atmosfera fina de Marte, combinada com períodos de temperaturas superficiais relativamente quentes, poderia fazer com que a água fluindo na superfície fervesse violentamente, um processo que poderia mover grandes quantidades de areia e outros sedimentos. Algumas pesquisas sugerem que as RSL podem ser fluxos granulares secos, onde grãos de areia e poeira deslizam encosta abaixo, formando as listras escuras, em vez de fluxos de água líquida. A discussão sobre a origem das RSL – água líquida versus processos secos – continua ativa na comunidade científica.
Implicações para a História Climática e Habitabilidade de Marte
As novas descobertas sobre os padrões semelhantes a tinta escorrendo podem adicionar uma nova camada a essa discussão. Douglas Glade, co-autor do estudo e pesquisador assistente de pós-doutorado na Universidade de Rochester, descreveu esses padrões como "exemplos grandes, de movimento lento e granulares de padrões comuns encontrados em fluidos do cotidiano, como tinta escorrendo por uma parede". A equipe também confirmou que os lobos marcianos eram maiores que os terrestres – em média, cerca de 2,6 vezes mais altos. Para explicar isso, eles propuseram que Marte tem lobos mais altos porque sua gravidade é mais fraca, o que permite que ondas de sedimento acumulado cresçam mais antes de colapsar.
Apesar das novas descobertas, muitas questões sobre os lobos marcianos permanecem sem resposta, incluindo por que parecem ser significativamente maiores do que os da Terra. A investigação contínua dessas formações, juntamente com o estudo das RSL, é crucial para desvendar a história climática de Marte, a possível presença passada ou presente de água líquida e, em última análise, o potencial do planeta para abrigar vida.
A busca por água em Marte, seja em estado líquido, gelo ou vapor, tem sido um dos principais objetivos da exploração marciana, pois a água é considerada um ingrediente essencial para a vida como a conhecemos. Descobertas anteriores já confirmaram a presença de gelo de água nos polos marcianos e em subsuperfície, além de vapor de água na atmosfera. A possibilidade de água líquida, mesmo que salgada e intermitente, aumenta o interesse astrobiológico no Planeta Vermelho.
