Investidores de Venture Capital Realmente Não Se Importam com sua Startup de $10 Milhões? A Verdade Chocante.
O Sonho Empreendedor e a Realidade do Capital de Risco (VC)
Muitos aspirantes a empreendedores são cativados pela narrativa de sucesso rápido e riqueza instantânea, frequentemente retratada em filmes como 'A Rede Social', que detalha a ascensão do Facebook, ou pelas manchetes sobre aquisições bilionárias, como a compra do Instagram pelo mesmo Facebook por US$1 bilhão com apenas 13 funcionários e sem receita significativa na época, conforme noticiado por veículos como o TechCrunch. Essa visão romantizada leva muitos a crer que o caminho para o sucesso de uma startup invariavelmente passa por rodadas de investimento de Venture Capital (VC). Contudo, Christian Peverelli, um empreendedor serial, argumenta que a realidade pode ser bem diferente, especialmente para startups com potencial de atingir 'apenas' US$10 milhões em receita.
Por Que Investidores de Venture Capital Podem Não Se Interessar Pela Sua Startup de $10 Milhões?
A afirmação de que investidores de VC podem não se interessar por uma startup que atinja uma receita anual recorrente (ARR) de US$10 milhões pode parecer contraintuitiva. Afinal, US$10 milhões é um valor considerável. Para entender essa perspectiva, é crucial analisar o modelo de negócios e as expectativas dos fundos de Venture Capital.
Entendendo o Modelo de Negócios do Venture Capital
Fundos de Venture Capital gerenciam dinheiro de Limited Partners (LPs), que podem incluir fundos de pensão, doações universitárias (university endowments), fundos soberanos, indivíduos de alto patrimônio (high net-worth individuals) e family offices. Esses LPs confiam nos VCs para investir em empresas de alto crescimento, esperando retornos significativos.
Os VCs, por sua vez, ganham dinheiro de duas formas principais:
- Taxas de Gestão (Management Fees): Geralmente entre 2% a 2,5% ao ano sobre o capital comprometido do fundo. Essa taxa cobre os custos operacionais do fundo.
- Interesse Carregado (Carried Interest): Uma participação nos lucros dos investimentos bem-sucedidos, tipicamente entre 20% a 30% dos lucros gerados acima de um certo patamar. É aqui que os VCs realmente fazem seu dinheiro, o que alinha seus interesses com a busca por grandes sucessos.
A Lógica dos Retornos Exponenciais no Venture Capital
O portfólio de um fundo de Venture Capital é construído com base na premissa de que a maioria das startups investidas não terá sucesso ou terá um desempenho mediano. Estatisticamente, uma grande porcentagem de startups falha – algumas fontes, como estudos da Failory, indicam que cerca de 90% das startups falham. Portanto, os VCs precisam que alguns poucos investimentos se tornem 'home runs', gerando retornos exponenciais (10x, 20x, ou mais) para compensar as perdas e ainda entregar um retorno atraente para seus LPs.
Dados apresentados por Christian Peverelli, e corroborados por análises do setor como as da Correlation Ventures, indicam que:
- Aproximadamente 65% dos investimentos de VC não retornam o capital investido.
- Cerca de 67% dos fundadores que levantam capital de VC ou falham ou apenas conseguem manter a empresa autossustentável, sem gerar grandes retornos para os investidores.
- Apenas uma pequena fração, talvez 4% das rodadas, consegue retornos de 10x ou mais.
Diante desse cenário, uma startup que atinge US$10 milhões em ARR e se estabiliza nesse patamar, embora seja um negócio saudável e lucrativo para os fundadores, pode não movimentar o ponteiro para um fundo de VC que precisa de saídas (exits) na casa das centenas de milhões ou até bilhões de dólares.
O Problema da Liquidez e o Horizonte de Investimento em Venture Capital
Investimentos em Venture Capital são, por natureza, ilíquidos. O dinheiro investido fica 'preso' na startup por muitos anos, geralmente de 7 a 10 anos, e estudos mais recentes sugerem que esse período pode se estender para 12 a 14 anos até que ocorra um evento de liquidez (como uma aquisição ou IPO).
Para um fundo de VC, uma empresa que se torna autossustentável com US$10 milhões em receita, mas sem um caminho claro para um exit de grande porte (acima de US$100 milhões, idealmente), pode se tornar uma 'dor de cabeça'. Ela ocupa capital e atenção que poderiam ser direcionados para empresas com maior potencial de crescimento explosivo. Nesse contexto, do ponto de vista puramente financeiro do VC, pode ser preferível que a empresa falhe rapidamente (permitindo abater o prejuízo fiscalmente) ou que seja vendida por um valor muito alto.
O Que os Fundadores Realmente Buscam e a Importância da Informação
É fundamental que os empreendedores entendam essa dinâmica antes de buscar investimento de Venture Capital.
As Motivações dos Fundadores: Liberdade, Autonomia e Propriedade
Muitos fundadores iniciam suas jornadas buscando:
- Trabalhar para si mesmos: A autonomia de ser seu próprio chefe.
- Liberdade: A flexibilidade de horários e de tomada de decisão.
- Propriedade (Ownership): Construir algo que é seu e colher os frutos disso.
Ao aceitar investimento de VC, parte dessa liberdade e propriedade é cedida. Os investidores passam a ter voz nas decisões e esperam um crescimento acelerado, o que pode não se alinhar com os desejos originais de todos os fundadores. A pressão por escalar rapidamente é imensa.
A Necessidade de Decisões Informadas sobre Fontes de Financiamento
Venture Capital é apenas uma das muitas formas de financiar uma startup. É crucial que os fundadores estejam bem informados sobre as implicações de cada tipo de capital.
- Bootstrapping: Crescer o negócio utilizando os próprios recursos gerados pela empresa. Permite manter 100% da propriedade e controle, mas o crescimento pode ser mais lento.
- Investidores Anjo: Indivíduos que investem capital próprio em troca de participação, geralmente em estágios iniciais.
- Outras alternativas: Existem diversas outras opções como revenue-based financing, crowdfunding, e empréstimos.
A escolha do caminho de financiamento deve estar alinhada com os objetivos de longo prazo dos fundadores e da empresa. Não há caminho certo ou errado, mas sim o mais adequado para cada situação. A posse de participação (ownership) é um fator determinante na criação de riqueza para os fundadores.
Conclusão: Alinhando Expectativas no Mundo do Empreendedorismo
A mensagem de Christian Peverelli não é desencorajar a busca por Venture Capital, mas sim promover um empreendedorismo mais consciente e informado. Entender que VCs buscam retornos desproporcionais devido ao alto risco e ao modelo de seu negócio é vital. Para uma startup com um potencial de mercado que a levaria a ser um excelente negócio de US$10 milhões ou US$20 milhões, outras formas de financiamento ou o crescimento orgânico (bootstrapping) podem ser mais adequadas, permitindo que os fundadores mantenham maior controle e colham os benefícios de seu trabalho árduo. A chave é a informação e o alinhamento entre as ambições dos fundadores e as expectativas dos investidores.