IA e a Orquestração da Vida e Morte Palestina

IA e a Orquestração da Vida e Morte Palestina

A Inteligência Artificial (IA), frequentemente saudada como um farol de inovação e progresso, revela um lado sombrio e complexo no contexto palestino. Longe das utopias tecnológicas, a IA é empregada como uma ferramenta de controle, vigilância e, alarmantemente, de guerra, moldando coercitivamente a vida e a morte de milhões de pessoas. Relatórios e análises, especialmente os divulgados por entidades como a Tech Policy Press, expõem como essa tecnologia se entrelaça na teia da ocupação, transformando dados em dominação e, em alguns casos, em letalidade algorítmica.

Algoritmos de Vigilância: A Teia Invisível

A vida cotidiana dos palestinos é cada vez mais mediada por sistemas de vigilância alimentados por IA. A coleta de dados biométricos não é uma escolha, mas uma imposição. Ao passar por postos de controle militares, em áreas públicas ou mesmo em rotas de evacuação, a população é submetida a varreduras de reconhecimento facial e escaneamento de íris. A 7amleh – O Centro Árabe para o Avanço da Mídia Social, destaca que sistemas como o banco de dados 'Wolf Pack' utilizam tecnologias de reconhecimento facial para criar perfis de “virtualmente todos os palestinos na Cisjordânia”, atribuindo a cada indivíduo uma classificação de segurança. Isso transforma a existência em uma fonte constante de informações, onde a simples presença em um local pode ter implicações.

Essa vasta aparelhagem de vigilância, conforme apontado pela Tech Policy Press, demonstra como as vidas dos palestinos são coercitivamente transformadas em fontes de dados para Israel. Mesmo a assistência humanitária pode ser condicionada à submissão a testes biométricos, uma situação de “sem escolha” que força aqueles que buscam alimento a se submeterem a escaneamentos faciais e de íris. Essas tecnologias não apenas violam o direito à privacidade, mas também fragmentam, segregam e controlam os palestinos, limitando sua liberdade de movimento e cerceando direitos fundamentais.

Automação da Guerra: Alvos e Limiares Reduzidos

O uso da IA estende-se perigosamente para o âmbito militar. Sistemas de direcionamento autônomos, como o Spice 250, acoplado às asas de aviões de guerra, são citados como exemplos de como a IA é empregada para o reconhecimento automático de alvos. O mais preocupante é a revelação de que, após esgotar alvos que atendiam a um limiar inicial, os oficiais militares israelenses teriam estabelecido um novo e mais baixo limiar para justificar mortes subsequentes. Isso significa que as mortes de palestinos são transformadas em métricas para calcular e aumentar o poder letal dos sistemas de direcionamento de IA, sendo usadas para aprimorar a precisão e a eficiência de futuros ataques.

Essa tabulação de mortes palestinas para aprimorar a letalidade dos sistemas que os visam ressalta a dimensão ética e humanitária da aplicação da IA neste cenário. É uma orquestração algorítmica da vida e da morte, onde algoritmos são alimentados com dados de seres humanos para refinar sua capacidade de matá-los. As armas robóticas e os drones, usados intensivamente em operações militares, embora ainda operados remotamente por humanos, incorporam cada vez mais elementos de IA, o que intensifica o debate sobre a responsabilidade e as implicações de tais tecnologias em conflitos armados.

O 'Laboratório' Palestino e a Complicidade Tecnológica

A ideia de que a Palestina serve como um “laboratório” para o teste e refinamento de sistemas de IA é uma crítica recorrente. Esse cenário sugere que os palestinos são submetidos a uma violência experimental e letal, onde seus corpos, vivos e mortos, fornecem dados cruciais para treinar e alimentar esses sistemas. A Amnesty International, em seu relatório 'Apartheid Automatizado', detalha o uso extensivo da tecnologia de reconhecimento facial em Hebron e Jerusalém Oriental para consolidar o controle e a opressão.

A discussão não se limita apenas ao uso de IA pelo Estado, mas também à cumplicidade de grandes empresas de tecnologia. Críticos, como os participantes de webinars promovidos pelo Arab Center Washington DC, apontam que essas empresas não só censuram vozes palestinas e anti-guerra nas plataformas de mídia social, mas também fornecem tecnologias para vigilância, armas autônomas e campanhas de desinformação que reforçam a dominação israelense. A falta de marcos regulatórios adequados e as disparidades de poder globais contribuem para o impacto esmagadoramente negativo das tecnologias de IA na vida palestina, intensificando a ocupação e a repressão digital.

Implicações Humanitárias e o Futuro Incerto

O impacto das tecnologias de IA na vida palestina vai muito além da vigilância e do conflito armado. Elas intensificam as desigualdades existentes, gerando novas formas de opressão, perigo e preconceito. A violação dos direitos humanos, incluindo a liberdade de movimento, reunião, privacidade e expressão, é amplificada, criando um “efeito inibidor” que torna a vida diária insuportável para aqueles sob ocupação. A promessa da IA de eficiência e controle se manifesta aqui como uma ferramenta de subjugação que busca tornar a ocupação menos custosa e mais duradoura.

Embora o cenário possa parecer distópico e a IA uma “supermáquina de subjugação”, é crucial reconhecer que esses sistemas não são onipotentes, como sugerido por eventos inesperados. A resiliência humana e a contínua luta por direitos e narrativa são forças a serem consideradas. O debate sobre a IA neste contexto é um chamado urgente para a ação, exigindo uma abordagem centrada nos direitos humanos para o desenvolvimento e implantação de tecnologias. É um lembrete contundente de que a tecnologia, por mais avançada que seja, é uma ferramenta moldada pela intenção humana, e suas aplicações podem ter consequências profundas e irreversíveis na vida de milhões de pessoas.

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