No dinâmico ecossistema das startups, a capacidade de atrair e reter talentos, bem como de garantir investimento, é crucial para a sobrevivência e o crescimento. Uma das ferramentas mais poderosas à disposição dos empreendedores, especialmente aqueles em estágios iniciais e com capital limitado, é o equity – a participação acionária na empresa. Nas palavras do renomado investidor e empreendedor Naval Ravikant, "Você não vai enriquecer alugando seu tempo. Você deve possuir equity, uma parte do negócio, para conquistar sua liberdade financeira." Este artigo, inspirado nas perspicazes lições de Christian Peverelli, cofundador da WeAreNoCode, explora como distribuir equity de forma estratégica, abordando para quem, quanto, e sob quais mecanismos.
Para muitas startups, o equity não é apenas uma opção, mas uma necessidade. Sem grandes reservas de caixa, oferecer participação na empresa torna-se a moeda mais valiosa para compensar salários abaixo do mercado, atrair investidores anjo ou fundos de venture capital, e engajar conselheiros estratégicos. Aprender a usar essa "moeda" é uma habilidade essencial para qualquer fundador.
É fundamental entender a distinção entre remuneração via salário e via ações. Um salário oferece segurança e baixo risco para o funcionário, mas geralmente com um potencial de ganho limitado. Por outro lado, o equity representa um risco maior, pois seu valor depende inteiramente do sucesso futuro da empresa. Contudo, esse risco é acompanhado por um potencial de recompensa significativamente mais alto. Para fundadores, que investem tempo e capital consideráveis, deter uma grande parcela de equity é natural, alinhando seus ganhos ao desempenho da startup.
A distribuição de equity deve ser criteriosa. Christian Peverelli identifica quatro grupos principais que podem ser elegíveis:
Cofundadores são aqueles que embarcam na jornada desde o início, compartilhando os riscos e as responsabilidades de construir a empresa. Eles dedicam seu tempo integral e, naturalmente, esperam uma participação acionária substancial, que pode variar de uma divisão igualitária (50/50) a participações menores, dependendo do estágio de entrada e da contribuição individual. Um sinal de alerta é um cofundador em potencial que não está disposto a se dedicar em tempo integral.
Oferecer ações a funcionários é uma estratégia eficaz para atrair talentos que talvez não pudessem ser contratados apenas com salários competitivos, especialmente em fases iniciais. Além disso, o equity serve como um poderoso incentivo para retenção, pois o valor das ações tende a aumentar com o sucesso e o tempo de permanência na empresa. É uma forma de alinhar os interesses dos colaboradores com os da startup.
Investidores, sejam anjos ou fundos de Venture Capital, injetam o capital necessário para que a startup possa crescer, desenvolver produtos e expandir suas operações. Em troca desse investimento financeiro e do risco assumido, eles recebem uma porcentagem do equity da empresa, esperando um retorno significativo caso a startup prospere.
Conselheiros estratégicos podem agregar imenso valor a uma startup através de sua experiência, conhecimento de indústria e rede de contatos (rolodex). Embora geralmente não trabalhem em tempo integral, sua contribuição pode ser crucial. Compensá-los com uma pequena fatia de equity é uma prática comum para alinhar seus incentivos aos da empresa, sem o desembolso de grandes quantias em dinheiro.
Peverelli adverte contra a distribuição de equity para contratados (contractors) ou freelancers. Esses profissionais geralmente têm um papel de curto prazo e são compensados por seus serviços específicos. A analogia utilizada é: você daria 30% da sua casa ao pedreiro que a construiu? Provavelmente não. A participação acionária deve ser reservada para aqueles com um compromisso de longo prazo e um impacto direto e contínuo no sucesso da empresa.
A pergunta de "quanto equity distribuir" não tem uma resposta única; como Peverelli aponta, "depende". Diversos fatores influenciam essa decisão:
Um princípio fundamental é que o momento de entrada na empresa (timing) geralmente supera a senioridade ou a experiência prévia em termos de alocação de equity. Quem assume o risco nos estágios mais incipientes (como cofundadores e primeiros funcionários) tende a receber uma participação maior. À medida que a startup cresce e o risco diminui, a porcentagem de equity oferecida a novos membros também tende a ser menor.
A função e o nível de responsabilidade do indivíduo são determinantes. Por exemplo, um Diretor de Tecnologia (CTO) que se junta à equipe em um estágio inicial provavelmente receberá uma fatia maior de equity do que um engenheiro júnior contratado no mesmo período, devido à diferença de impacto estratégico e responsabilidade.
O custo de oportunidade do profissional também pesa na balança. Se alguém está deixando um emprego estável e bem remunerado em uma grande empresa, como o exemplo citado de um profissional do Google que ganhava $300.000 anuais, para se juntar a uma startup com um salário significativamente menor, o equity oferecido deve refletir esse sacrifício e o risco assumido.
Embora cada caso seja único, alguns benchmarks da indústria podem servir como referência. É importante notar que esses números são apenas guias e podem variar drasticamente.
Peverelli cita alguns exemplos do mercado. Andrew Chen (Currier), um empreendedor serial que se tornou capitalista de risco, menciona que costuma oferecer entre 0.1% e 0.2% para cada conselheiro, com a filosofia de que, ao ter vários conselheiros, um deles pode trazer um insight ou conexão transformadora. Anu Shukla, fundadora da RewardsPay, contratou um VP de Engenharia oferecendo 3% de equity mais salário, um papel crucial para a empresa. A Index Ventures, um proeminente fundo de capital de risco, indica em seu manual que um Chefe de Engenharia em estágio inicial, pós-financiamento, poderia receber cerca de 1%. Já um artigo do Silicon Valley Bank sugere que o primeiro contratado de uma startup poderia receber até 10%. Essas variações reforçam a necessidade de analisar cada situação individualmente.
Distribuir equity envolve mais do que apenas definir porcentagens. Existem mecanismos contratuais importantes que protegem tanto a empresa quanto os recebedores das ações.
O vesting é um cronograma que dita quando um funcionário ou cofundador realmente ganha o direito às suas ações ou opções de compra de ações. O objetivo é incentivar a permanência e o comprometimento a longo prazo. Um cronograma de vesting comum é de quatro anos. Por exemplo, se alguém recebe 100 ações com vesting de quatro anos, essa pessoa geralmente ganharia o direito a 25 ações por ano. Se sair da empresa após um ano, perderia o direito às 75 ações restantes. Isso protege a empresa de conceder participação integral a quem contribui por pouco tempo.
Muitos cronogramas de vesting incluem um "cliff", frequentemente de um ano. Isso significa que, se a pessoa deixar a empresa antes de completar esse primeiro ano (o período do cliff), ela não terá direito a nenhuma das ações. Somente após o período do cliff é que a primeira parcela das ações (por exemplo, 25% após um ano) se torna efetivamente sua. Depois disso, o vesting geralmente continua de forma mensal ou trimestral. O cliff funciona como um período probatório.
Quando uma startup capta recursos de investidores (funding), ela geralmente emite novas ações. Isso leva a um fenômeno chamado diluição. Se você detinha 20 de 100 ações totais (20% da empresa) e a empresa emite mais 20 ações para investidores, o total de ações passa a ser 120. Suas 20 ações agora representam aproximadamente 16.6% (20/120) da empresa. Embora sua porcentagem diminua, o valor total da empresa (e, idealmente, o valor de suas ações) geralmente aumenta devido ao novo investimento. É crucial que fundadores, funcionários e investidores iniciantes entendam esse conceito.
Um "option pool" é uma reserva de ações (ou opções de compra de ações) destinada a futuros funcionários, cofundadores ou conselheiros. Ao negociar rodadas de investimento, é comum que os investidores exijam a criação ou aumento desse pool para garantir que haja equity disponível para atrair talentos futuros, sem diluir excessivamente os investidores existentes logo após o aporte.
Para um aprofundamento nestes mecanismos e outros detalhes sobre negociações de investimento, Peverelli recomenda o livro "Venture Deals" de Brad Feld e Jason Mendelson, uma leitura valiosa para empreendedores.
Dominar a arte de distribuir equity é uma das chaves para o sucesso de uma startup. Não se trata apenas de números, mas de alinhar incentivos, construir uma equipe comprometida e garantir os recursos para crescer. Como enfatizado no início, possuir equity é o caminho para a verdadeira independência financeira, uma lição que ecoa para todos que sonham em construir algo significativo.
Ao considerar a distribuição de equity, lembre-se da citação: "Um por cento de uma empresa de um bilhão de dólares vale dez vezes mais do que cem por cento de uma empresa de um milhão de dólares." O foco deve estar em construir um "bolo" maior para todos, e não apenas em disputar fatias pequenas. No entanto, essa visão de longo prazo deve ser equilibrada com uma distribuição cuidadosa e estratégica do equity, pois ela reflete diretamente a capacidade de negociação e a visão do fundador para o futuro da empresa.
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