Descoberta Revolucionária Revela Como as Células Cerebrais Morrem na Doença de Alzheimer e CTE

Por Mizael Xavier

Novo Estudo Ilumina Mecanismos de Morte Celular em Doenças Neurodegenerativas

Uma pesquisa inovadora publicada na ScienceDaily em 7 de maio de 2025, revelou um mecanismo fundamental pelo qual as células cerebrais morrem na Doença de Alzheimer e na Encefalopatia Traumática Crônica (CTE). Esta descoberta abre novos caminhos para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes para estas condições neurológicas devastadoras.

O Papel da Proteína Tau e a Descoberta da Disrupção do RNA Splicing

No centro desta pesquisa está a proteína tau. Em condições saudáveis, a tau desempenha um papel crucial na estabilização dos microtúbulos nas células cerebrais. No entanto, em doenças como Alzheimer e CTE, a tau forma agregados anormais, conhecidos como emaranhados neurofibrilares. Estes emaranhados são uma característica patológica comum a várias doenças neurodegenerativas, coletivamente denominadas "tauopatias".

O novo estudo demonstra, pela primeira vez, que estes agregados de tau sequestram RNA (ácido ribonucleico) dentro das células e interferem num processo vital chamado "RNA splicing". O RNA splicing é um mecanismo celular essencial pelo qual as células editam a informação genética para produzir as proteínas necessárias ao seu funcionamento. A perturbação deste processo leva à incapacidade da célula de produzir proteínas vitais, culminando na sua morte. Pesquisadores observaram que os agregados de tau parecem sequestrar RNA e proteínas relacionadas ao splicing, interrompendo sua função normal. Evidências de defeitos relacionados ao splicing também foram encontradas em células cerebrais de pacientes com Alzheimer após a morte.

Implicações para Doenças Neurodegenerativas

A compreensão de como a proteína tau leva à neurodegeneração é crucial não apenas para a Doença de Alzheimer, mas para múltiplas outras doenças neurológicas. Estima-se que 70% das doenças neurodegenerativas estejam, pelo menos parcialmente, relacionadas com os agregados de tau. Esta descoberta sugere uma via de doença comum que liga várias condições neurodegenerativas, incluindo formas menos comuns de demência. A proteína tau também está implicada em outras doenças como a Doença de Parkinson.

A morte celular programada, ou apoptose, é um processo natural, mas em doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson, ocorre de forma desequilibrada, levando à perda significativa de células. Interromper a apoptose quando ela causa alterações degenerativas no sistema nervoso é um objetivo primordial para os pesquisadores que buscam tratamentos eficazes.

A Investigação e Metodologia

Para este estudo, os pesquisadores isolaram agregados de tau de linhas celulares e de cérebros de ratos com uma condição semelhante ao Alzheimer. Utilizando técnicas de sequenciação genética, confirmaram pela primeira vez que os agregados de tau contêm RNA. Descobriram também que a tau interage com estruturas celulares conhecidas como "nuclear speckles", sequestrando e deslocando proteínas dentro delas, o que perturba o processo de RNA splicing. Esta perturbação impede a capacidade da célula de fabricar proteínas essenciais.

Diferenças e Semelhanças entre Alzheimer e CTE

Embora tanto a Doença de Alzheimer quanto a CTE envolvam o acúmulo da proteína tau, existem diferenças importantes. A CTE, frequentemente associada a atletas de desportos de contacto como futebol americano e boxe devido a repetidos traumatismos cranianos, mostra uma distribuição diferente dos emaranhados de tau em comparação com o Alzheimer. Estudos anteriores utilizando crio-microscopia eletrônica (cryo-EM) revelaram que a dobra da proteína tau anormal na CTE é diferente da dobra da tau no Alzheimer. Além disso, foi descoberto um elemento não identificado adjacente à tau da CTE que não existe na tau do Alzheimer. No entanto, novas pesquisas indicam que a CTE e o Alzheimer podem ocorrer nos mesmos pacientes.

A Encefalopatia Traumática Crônica foi inicialmente descrita em 1928 e era conhecida como "demência pugilística". Casos como o do jogador de futebol Hideraldo Luís Bellini e do pugilista Muhammad Ali (cuja Doença de Parkinson suspeita-se ser, na realidade, CTE) ilustram a gravidade desta condição. No Brasil, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estudam cérebros de atletas para entender melhor a CTE, inclusive com a doação do cérebro do ex-pugilista Maguila para pesquisa.

Mecanismos de Morte Celular e Estresse Oxidativo

Outros mecanismos de morte celular também estão implicados em doenças neurodegenerativas. O estresse oxidativo, por exemplo, pode levar à formação de cadeias de poliubiquitina que sinalizam a degradação de proteínas danificadas. A ubiquitina, antes vista apenas como um "beijo da morte" para proteínas, demonstrou ter outras funções dependendo de como suas moléculas estão interligadas. Falhas no mecanismo de controle do glutamato, um neurotransmissor excitatório, podem levar à excitotoxicidade e neurodegeneração, contribuindo para doenças como Alzheimer.

O Futuro da Investigação e Potenciais Terapias

Esta nova compreensão sobre o papel da tau na disrupção do RNA splicing oferece um novo alvo para o desenvolvimento de terapias. Se os cientistas conseguirem desenvolver formas de impedir que a tau se ligue ao RNA ou de proteger o mecanismo de splicing, poderão ser capazes de prevenir a morte das células cerebrais nestas doenças. Apesar de atualmente não existirem tratamentos que modifiquem a progressão da Doença de Alzheimer ou da maioria das outras tauopatias, esta pesquisa representa um avanço significativo.

A investigação sobre os mecanismos celulares das doenças neurodegenerativas é um campo em constante evolução. A identificação de vias moleculares específicas, como a agora revelada interação entre a tau e o RNA splicing, é fundamental para desbloquear novas abordagens terapêuticas e, quem sabe, encontrar a cura para estas condições debilitantes.

Mizael Xavier

Mizael Xavier

Desenvolvedor e escritor técnico

Ver todos os posts

Compartilhar: