Cortes Orçamentários na NASA: Impactos e Controvérsias na Proposta para o Ano Fiscal de 2026

Por Mizael Xavier

Proposta Orçamentária da Casa Branca para a NASA em 2026 Gera Debate

A recente divulgação da proposta orçamentária da Casa Branca para o ano fiscal de 2026 (FY2026) desencadeou um intenso debate sobre o futuro da exploração espacial e da pesquisa científica nos Estados Unidos. A proposta sugere um corte significativo no financiamento da NASA, a agência espacial americana, levantando preocupações entre cientistas, especialistas do setor e entusiastas do espaço.

Detalhes da Proposta e Reações Iniciais

De acordo com informações divulgadas, a proposta orçamentária "enxuta" ("skinny budget") da administração Trump para o FY2026 prevê uma redução de aproximadamente 6 bilhões de dólares no orçamento total da NASA em comparação com os níveis aprovados para 2025, que foram de cerca de 24,8 bilhões de dólares. Isso representaria um corte de cerca de 24% no financiamento geral da agência. Mais alarmante ainda é a proposta de um corte de quase 47% no orçamento da Diretoria de Missões Científicas (SMD) da NASA, que passaria de aproximadamente 7,5 bilhões de dólares no FY2025 para cerca de 3,9 bilhões no FY2026. Outras fontes indicam que o orçamento da NASA cairia para 18,8 bilhões de dólares em 2026.

A The Planetary Society, uma proeminente organização independente de defesa do espaço, classificou a proposta como "o maior corte de um único ano para a NASA na história americana", alertando que isso poderia forçar o encerramento generalizado de missões funcionais no valor de bilhões de dólares e representar um "evento de nível de extinção" para a ciência e exploração espacial nos EUA. A organização instou o Congresso a rejeitar a proposta, argumentando que ela causaria caos, desperdiçaria o investimento dos contribuintes e minaria a liderança americana no espaço.

A proposta orçamentária do Escritório de Gestão e Orçamento da Casa Branca (OMB), segundo a The Planetary Society, está em desacordo fundamental com a visão declarada do presidente Trump de que a América deve "liderar o caminho no fomento da busca pela descoberta e exploração espacial".

Impacto em Programas Chave da NASA

Os cortes propostos teriam consequências significativas em diversos programas da NASA:

Missão Mars Sample Return (MSR)

A ambiciosa missão Mars Sample Return, que visa trazer amostras do solo marciano coletadas pelo rover Perseverance para análise na Terra, seria cancelada sob esta proposta orçamentária. O programa já enfrentava desafios orçamentários e de cronograma, com estimativas de custo chegando a 11 bilhões de dólares e um retorno das amostras não antes de 2040, sob a estrutura anterior. A nova proposta orçamentária sugere que a responsabilidade pela missão de retorno de amostras de Marte passaria para futuras missões tripuladas na década de 2030. Apesar disso, a proposta aloca 1 bilhão de dólares em novos investimentos para programas focados em Marte.

Programa Artemis e Exploração Lunar

O programa Artemis, que planeja levar astronautas de volta à Lua, também sofreria alterações significativas. A proposta sugere o encerramento gradual do foguete Space Launch System (SLS) e da cápsula Orion após a missão Artemis III, atualmente prevista para setembro de 2026. O Lunar Gateway, uma estação espacial planejada para orbitar a Lua, também seria cancelado. No entanto, a proposta aloca mais de 7 bilhões de dólares para a exploração lunar, com o objetivo de "derrotar a China no regresso à Lua". Alguns componentes do Gateway poderiam ser reutilizados em outras missões.

Ciência da Terra e Heliofísica

Os cortes também afetariam drasticamente a pesquisa em Ciências da Terra, com uma redução proposta de 53% (cerca de 1,161 bilhão de dólares a menos em relação ao FY2025). A Heliofísica, que estuda o Sol e sua influência no sistema solar, enfrentaria um corte de cerca de 50%, para 455 milhões de dólares. Programas de "aviação verde" focados no clima seriam eliminados.

Astrofísica e Telescópios Espaciais

A divisão de Astrofísica da NASA veria seu orçamento reduzido, e há relatos de que o financiamento adicional para telescópios além do James Webb e do Hubble seria cortado. A proposta inclui o cancelamento do lançamento do Telescópio Espacial Nancy Grace Roman, uma missão estimada em 3,5 bilhões de dólares. Esta seria a quarta tentativa da administração Trump de cancelar o projeto. O Observatório de Mundos Habitáveis (Habitable Worlds Observatory), um projeto futuro para buscar vida em exoplanetas, também poderia ser afetado.

Outros Programas e Operações da NASA

A proposta também prevê o fim do financiamento para o Escritório de Engajamento STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), atualmente com um orçamento de 143 milhões de dólares para o FY2025. Haveria também reduções nos serviços de tecnologia da informação, operações dos centros da NASA, manutenção de instalações e atividades de conformidade ambiental. As operações da Estação Espacial Internacional (ISS) seriam reduzidas, com um corte de 508 milhões de dólares, visando a transição para uma estação comercial até 2030.

Justificativas e Prioridades da Administração

A justificativa apresentada para esses cortes é a necessidade de redirecionar o financiamento da NASA para garantir que os Estados Unidos superem a China no retorno à Lua e sejam os primeiros a colocar um ser humano em Marte. A administração argumenta que, mesmo com os fundos existentes, a NASA ainda pode otimizar a exploração espacial para se manter inovadora e eficiente. A proposta visa também simplificar a força de trabalho da NASA e eliminar projetos de propulsão espacial considerados "falhos".

Perspectivas e Próximos Passos

É crucial notar que esta é uma proposta orçamentária inicial. A decisão final sobre o financiamento da NASA para o FY2026 caberá ao Congresso dos Estados Unidos, que tem o poder de aprovar, rejeitar ou modificar a proposta. Organizações como a American Astronomical Society e a Coalition for Aerospace and Science (CAS) também expressaram profunda preocupação com os cortes propostos e pediram ao Congresso que garanta um financiamento robusto para a NASA. A CAS, por exemplo, solicita que o Congresso destine pelo menos US$ 27,18 bilhões para o ano fiscal de 2026.

A comunidade científica e espacial aguarda com expectativa as deliberações do Congresso, que determinarão o rumo da exploração espacial americana nos próximos anos. A ausência de um Administrador da NASA confirmado no cargo também é um fator de instabilidade nesse processo. Janet Petro é a administradora interina da NASA. O bilionário e astronauta privado Jared Isaacman foi nomeado para o cargo e aguarda confirmação do Senado.

A divulgação completa e detalhada do orçamento para o FY2026 é esperada para o final de maio.

Mizael Xavier

Mizael Xavier

Desenvolvedor e escritor técnico

Ver todos os posts

Compartilhar: