Conclave: Um Olhar Cinematográfico Sobre os Bastidores da Escolha Papal

"Conclave": Um Thriller Político no Coração do Vaticano
O filme "Conclave", dirigido por Edward Berger, mergulha nos corredores secretos e nas tradições centenárias do Vaticano durante um dos eventos mais sigilosos e cruciais da Igreja Católica: a eleição de um novo Papa. Lançado em 2024, o longa-metragem, baseado no romance homônimo de Robert Harris, rapidamente gerou discussões e conquistou aclamação da crítica, destacando-se pelas atuações primorosas e pela direção habilidosa.
A trama acompanha o Cardeal Lawrence (interpretado por Ralph Fiennes), que recebe a incumbência de organizar e presidir o conclave após a morte inesperada do Pontífice. O que se desenrola é um intricado jogo de poder, ambição e fé, onde segredos e escândalos dos cardeais candidatos vêm à tona, ameaçando não apenas suas chances, mas a própria estabilidade da Igreja.
O Enredo e Seus Personagens Marcantes em "Conclave"
"Conclave" explora a tensão entre as diferentes facções dentro do Colégio Cardinalício. Entre os principais candidatos ao papado estão o Cardeal Bellini (Stanley Tucci), um americano de postura liberal e crítica; o Cardeal Adeyemi (Lucian Msamati), um nigeriano popular e conservador em questões sociais; o Cardeal Tremblay (John Lithgow), um canadense moderado que parece ocultar algo; e o Cardeal Tedesco (Sergio Castellitto), um italiano de extrema direita. A chegada inesperada do Cardeal Benitez (Carlos Diehz), nomeado secretamente pelo Papa falecido, adiciona mais uma camada de complexidade à disputa. Em meio a esse turbilhão, o próprio Cardeal Lawrence emerge como uma figura central, embora relutante em assumir o pontificado.
O filme se destaca por humanizar o processo eleitoral papal, revelando as discussões acaloradas nos corredores do Vaticano e as sutis manobras políticas por trás de um evento envolto em tradição e espiritualidade. A produção esforça-se para ser o mais realista possível, recriando detalhes como os aposentos dos cardeais na Domus Sanctae Marthae, o lacre do quarto do Papa falecido e a destruição de seu anel, além dos juramentos e do uso de produtos químicos para a famosa fumaça.
A Direção de Edward Berger e a Adaptação da Obra de Robert Harris
Edward Berger, conhecido por seu trabalho em "Nada de Novo no Front", conduz "Conclave" com maestria, criando uma atmosfera de suspense e tensão. A cinematografia de Stéphane Fontaine e a trilha sonora de Volker Bertelmann complementam a narrativa, acentuando o drama e o mistério. O roteiro de Peter Straughan é elogiado por sua fidelidade ao livro de Robert Harris, ao mesmo tempo em que adiciona novas nuances aos personagens e à trama. Pequenas alterações, como a nacionalidade de alguns cardeais, foram feitas para refletir a natureza global da Igreja Católica no século XXI e acomodar o elenco internacional.
O filme não se furta a abordar temas contemporâneos e controversos, como a divisão ideológica dentro da Igreja, a relação entre fé e dúvida, e posicionamentos religiosos sobre gênero e sexualidade, culminando em um final surpreendente que desafia normas conservadoras.
O Impacto e a Recepção de "Conclave"
"Conclave" foi bem recebido pela crítica especializada, que louvou as atuações, a direção, o roteiro e os aspectos técnicos. O filme tem sido apontado como um forte candidato a premiações, incluindo o Oscar. No entanto, a abordagem de temas sensíveis e o retrato da hierarquia da Igreja como um ambiente de ambição e corrupção geraram controvérsia e críticas por parte de alguns setores religiosos. O Bispo Robert Barron, por exemplo, criticou o filme por supostamente promover uma agenda progressista e retratar injustamente a liderança da Igreja.
Apesar das polêmicas, "Conclave" se estabelece como uma obra cinematográfica instigante e relevante, que convida à reflexão sobre poder, fé e as complexidades da natureza humana em um dos cenários mais enigmáticos do mundo. O diretor Edward Berger ressaltou a importância do lançamento nos cinemas para que o público pudesse se engajar com a obra, que exige paciência e atenção aos detalhes, algo que, segundo ele, poderia se perder em plataformas de streaming.
Como Funciona um Conclave Papal?
Um conclave é a reunião do Colégio de Cardeais com o objetivo de eleger um novo Papa, o Bispo de Roma e líder da Igreja Católica. Este sistema eleitoral, um dos mais antigos do mundo ainda em uso, ocorre na Capela Sistina, no Vaticano. As regras atuais determinam que apenas cardeais com menos de 80 anos no dia da vacância da Sé Apostólica (morte ou renúncia do Papa) podem votar, com um número máximo de 120 eleitores. O conclave deve iniciar entre 15 e 20 dias após a vacância.
Durante o conclave, os cardeais ficam em isolamento total na Casa Santa Marta, sem contato com o mundo exterior, para evitar qualquer tipo de interferência. As votações ocorrem na Capela Sistina, geralmente duas pela manhã e duas à tarde. Para que um Papa seja eleito, é necessária uma maioria de dois terços dos votos. Após cada votação, as cédulas são queimadas. A fumaça preta indica que não houve eleição, enquanto a fumaça branca sinaliza que um novo Papa foi escolhido. Uma vez eleito e após aceitar o cargo e escolher seu nome papal, o novo Pontífice é apresentado ao público na varanda da Basílica de São Pedro com o famoso anúncio "Habemus Papam".
