Como Fazer um Bombo: Guia Completo Para Construir o Seu Instrumento de Percussão

Por Mizael Xavier
Como Fazer um Bombo: Guia Completo Para Construir o Seu Instrumento de Percussão

O Que é um Bombo e Sua Importância Cultural?

O bombo, um tambor grave de ressonância profunda, é uma peça fundamental em diversas manifestações culturais ao redor do mundo. No Brasil, ele pulsa forte em ritmos como o maracatu, o samba de coco e diversas outras tradições regionais, como as encontradas no Nordeste. Antes de explorarmos como fazer um bombo, é crucial entender sua alma pulsante e o papel que desempenha, não apenas como instrumento musical, mas como um veículo de expressão cultural e social. A Sociedade Artística Brasileira (SABRA) destaca a importância de instrumentos como o bombo na música andina, refletindo sua relevância em diversas culturas sul-americanas. Sua origem, por vezes ligada a antigos tambores militares europeus ou a tradições africanas e indígenas, demonstra uma rica história de adaptação e significado.

Materiais Essenciais para Saber Como Fazer um Bombo

A escolha dos materiais é um passo determinante na jornada de como fazer um bombo, influenciando diretamente a sonoridade e a durabilidade do seu instrumento. Especialistas em luteria de percussão, como os que se dedicam à construção de instrumentos tradicionais, frequentemente debatem as nuances de cada escolha. A qualidade dos materiais é um fator que luthiers como Emerson Natalio, da MusiKong, e Toshiro, conhecido por seu trabalho com instrumentos de percussão no Brasil, certamente consideram em suas criações. Relatos históricos apontam que, antigamente, alfaias (um tipo de bombo usado no maracatu) eram feitas de barris de carvalho ou troncos de árvores como a Macaíba.

  • Corpo (Casco): Madeira (como barris reutilizados, compensado naval – material hoje comum na confecção de alfaias – ou lamelas de madeira coladas), PVC de grande diâmetro, ou até mesmo baldes plásticos resistentes para uma abordagem mais acessível. A densidade e espessura do material impactarão o timbre.
  • Peles: Peles de animal (couro de cabra ou boi são tradicionais e oferecem um som quente, mas exigem mais cuidados com umidade) ou peles sintéticas (nylon, poliéster – mais resistentes às variações climáticas e com timbre mais controlado). No maracatu tradicional, o couro de cabra ou bode é comum.
  • Aros: Madeira (muitas vezes de compensado ), metal ou PVC. Serão responsáveis por prender e tensionar as peles.
  • Sistema de Afinação: Cordas resistentes (sisal, nylon – o sisal era tradicionalmente usado em alfaias ) e cunhas de madeira (método tradicional de "aperto de cordas") ou parafusos de afinação com canoas metálicas (método moderno).
  • Ferramentas Básicas: Serra (para madeira ou PVC), furadeira, lixa, cola resistente para madeira , estilete, trena, grampos.
  • Acabamento (Opcional): Tinta, verniz, tecidos decorativos.

Passo a Passo Detalhado de Como Fazer um Bombo

Com os materiais em mãos, o processo de como fazer um bombo se inicia. A paciência e a precisão são suas maiores aliadas nesta etapa artesanal. O processo de construção, seja de uma alfaia de maracatu ou de um bombo legüero, envolve etapas cuidadosas desde a preparação do casco até a montagem das peles.

1. Preparando o Casco do Seu Bombo

O casco é o coração sonoro do bombo. Se estiver usando um tubo de PVC ou construindo um casco de madeira (por exemplo, com compensado ), corte-o no comprimento desejado (geralmente entre 30cm a 60cm de profundidade, mas podendo variar bastante; alfaias de maracatu podem ter diâmetros de 12 a 30 polegadas ). As bordas devem ser lixadas cuidadosamente para ficarem lisas e uniformes, garantindo um bom assentamento da pele. Alguns artesãos, conforme relatos em comunidades de construtores de instrumentos, recomendam um leve arredondamento nas bordas para proteger a pele e melhorar a vibração.

2. Confeccionando ou Preparando as Peles do Bombo

Se optar por peles de animal, estas geralmente precisam ser hidratadas para se tornarem maleáveis. Depois, são esticadas sobre os aros (que devem ter um diâmetro ligeiramente maior que o casco). Deixe uma margem de pele para ser dobrada e presa ao aro, um processo conhecido como "empachar" no contexto de alguns tambores tradicionais. Para peles sintéticas, o processo pode envolver o encaixe em aros específicos ou a colagem direta, dependendo do tipo de pele adquirida.

3. Montando o Sistema de Tensão e Afinação do Bombo

Este é um dos aspectos mais críticos ao aprender como fazer um bombo com boa sonoridade. Existem basicamente dois sistemas principais:

Sistema de Cordas e Cunhas (ou Apertadeiras):

Faça furos equidistantes nos aros superior e inferior. Passe a corda em zigue-zague entre os furos dos dois aros, mantendo uma tensão inicial. As cunhas de madeira ou "apertadeiras" são então inseridas entre as cordas e o casco; ao serem empurradas ou torcidas, aumentam a tensão das cordas e, consequentemente, das peles. Este método é ancestral e pode ser observado em diversos instrumentos tradicionais, como documentado por etnomusicólogos e presente em instrumentos como a alfaia de maracatu. A tensão é crucial para a sonoridade, como sabem bem os tocadores de bombo.

Sistema de Parafusos (Hardware):

Fixe as canoas metálicas no casco do bombo, alinhadas com os furos nos aros. Os parafusos de afinação passam pelos aros e são rosqueados nas canoas. Apertar os parafusos puxa o aro para baixo, esticando a pele. Fabricantes renomados de baterias como a Ludwig Drums ou a Yamaha utilizam variações sofisticadas deste sistema em seus tambores. Este sistema permite ajustes mais finos e é comum em baterias modernas.

4. Instalando as Peles no Seu Bombo

Com o sistema de tensão parcialmente montado, posicione as peles sobre as bordas do casco. Coloque os aros sobre as peles e comece a aplicar tensão gradualmente, seja trançando e apertando as cordas ou girando os parafusos. É vital aplicar tensão de forma equilibrada, apertando lados opostos progressivamente (em "xis" ou estrela) para garantir que a pele estique por igual. Manuais de montagem de baterias frequentemente enfatizam este ponto para evitar danos à pele ou ao casco. Um vídeo no TikTok de Tocándar mostra visualmente o processo de troca de pele e tensionamento por cordas.

Afinando e Cuidando do Seu Bombo Feito em Casa

Aprender como fazer um bombo não termina na montagem. A afinação é uma arte que se desenvolve com a prática. Para bombos com sistema de cordas, o ajuste é feito movimentando as cunhas ou repuxando seções específicas das cordas. Para sistemas com parafusos, gire cada parafuso em pequenas incrementos (um quarto de volta, por exemplo), sempre buscando um som uniforme em todos os pontos da pele próximos aos parafusos. O som desejado é geralmente grave e com sustain, mas a afinação exata pode variar conforme o estilo musical e o gosto pessoal. Leonardo de Souza Cruz, músico citado por PLANETABANDAS®, menciona diferentes abordagens para afinar bombos em escala, inclusive por notas musicais. Cuidados incluem proteger o bombo da umidade excessiva (especialmente se tiver peles de animal), evitar quedas e limpar as peles com um pano seco. Guarde-o em local arejado. A manutenção é parte importante da vida útil do instrumento.

Variações Criativas ao Aprender Como Fazer um Bombo

A beleza de como fazer um bombo artesanalmente reside na possibilidade de personalização. Você pode experimentar com diferentes profundidades e diâmetros de casco, diversos tipos de madeira ou materiais reciclados – há até quem faça tambores com baldes. A decoração também é um campo aberto: pinturas, tecidos, entalhes podem transformar seu bombo em uma obra de arte única. Projetos de música com sucata, frequentemente divulgados por organizações de arte-educação, mostram o potencial criativo da reutilização de materiais na confecção de instrumentos como o bombo. Artesãos como Fernando Vieira, construtor de bombos em Portugal, demonstram a paixão e a inventividade que podem ser aplicadas a este ofício.

Conclusão: A Gratificante Jornada de Como Fazer um Bombo

Construir o seu próprio bombo é uma experiência imensamente recompensadora que conecta você de forma íntima com a música e a tradição. Mais do que apenas seguir um manual sobre como fazer um bombo, é um processo de aprendizado, paciência e expressão criativa. O resultado não é apenas um instrumento, mas uma peça com sua identidade e a satisfação de ter criado algo com suas próprias mãos, quem sabe até inspirado por luthiers e construtores dedicados, como os que atuam em diversas partes do Brasil. A jornada de construção pode ser tão significativa quanto o som que seu bombo irá produzir.

Mizael Xavier

Mizael Xavier

Desenvolvedor e escritor técnico

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